"Inquérito a cientistas portugueses mostra que 46,4% quer emigrar ou já emigrou"
Considerando o trajecto recente
do desinvestimento em ciência e investigação em Portugal estes dados não supreendem mas são profundamente inquietantes.
Por outro lado e como é reconhecido, de uma forma geral, o
ensino superior e a investigação em Portugal têm uma qualidade que internamente
nem sempre é reconhecida e que se evidencia na frequência com que em diversas
áreas se assiste à contratação de jovens que estudaram em Portugal para
trabalho em empresas ou em investigação em diferentes países, onde se incluem,
por exemplo, a Inglaterra, a Alemanha ou os Estados Unidos que não são
propriamente países com baixo nível de desenvolvimento científico.
Neste quadro, torna-se ainda mais preocupante a partida para
o estrangeiro de muitos milhares de jovens, com formação superior de elevada
qualidade, porque em Portugal um projecto de vida viável e bem sucedido é uma
miragem. Este êxodo tem, obviamente, com profundas consequências para um país
como Portugal.
Em primeiro lugar, porque sendo um país com uma fortíssima
necessidade de qualificação nas empresas, vê partir os que mais preparados
estariam o que terá, evidentemente, um impacto económico significativo. Aliás,
é curioso que membros do Governo como Pires de Lima, Nuno Crato ou o
Primeiro-ministro sublinham recorrentemente a imperiosa necessidade de promover
emprego qualificado para o desenvolvimento de um país como o nosso.
Curiosamente, este entendimento é subscrito por um Governo com forte
responsabilidade pela emigração forçada de milhares de jovens com formação
superior, designadamente trabalhadores na área científica, que não vislumbram o
futuro em Portugal.
Em segundo lugar, porque importa não esquecer que os custos
da formação dos jovens qualificados em Portugal são suportados por todos os nós
no caso do ensino público e das famílias ou dos próprios na formação em
estabelecimentos privados embora, considerando também o ensino público, os
custos para as famílias na frequência de ensino superior em Portugal seja dos mais
altos na Europa. Isto significa que Portugal, o estado e as famílias, suporta
os custos da formação e os outros países aproveitam essa qualificação uma vez
que os jovens não conseguem desenvolver o seu trabalho em Portugal.
Estamos a cuidar mal do nosso futuro.
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