Mais de 5 mil alunos ainda têm aulas em contentores
De acordo com o DN, cerca de 5000 alunos ainda têm as suas
aulas em contentores, por atrasos ou suspensões nas obras de recuperação dos
edifícios escolares. Retomo algumas notas.
Era, é, reconhecido por toda a gente a necessidade de
modernização do parque escolar, em algumas situações inaceitavelmente degradado,
pelo que o processo desencadeado sob a responsabilidade da Parque Escolar
merecia concordância, independentemente da agenda político-partidária que gere
os discursos das lideranças políticas.
A verificada derrapagem nas contas de muitas das obras relacionadas,
que se não estranha em Portugal, têm sido apenas e lamentavelmente a
"rotina" das obras geridas por capitais públicos. No caso particular
da recuperação e modernização de edifícios escolares, a avaliação do que foi
realizado foi mostrando algo que muitas pessoas que conhecem as escolas tinham
como claro, o desajustamento de algumas soluções técnicas, o novo-riquismo
saloio de alguns equipamentos e materiais, o custo exorbitante de manutenção
que as soluções adoptadas implicam, etc. Estas opções, a “Festa” como lhe
chamou Maria de Lourdes Rodrigues, comprometeram o desenvolvimento do programa
com consequências muito negativas em várias escolas que ainda continuam em
eternas obras.
Sublinho que a recuperação do parque escolar e o equipamento
moderno das escolas era, é, uma exigência no sentido de dotar alunos,
professores e funcionários de condições de trabalho que sustentem a qualidade
que todos desejamos, não é um privilégio que se concede à comunidade escolar.
No entanto e como sempre, esse é o meu ponto, para além dos
recursos e equipamentos que por direito dos miúdos devem estar disponibilizados
em cada momento com a melhor qualidade possível, no fim temos as pessoas. E de
facto, a escola, mais do que equipamentos e meios que se desejam de qualidade,
é feita pelas pessoas, todas as pessoas, que na sua função específica lhe dão
sentido e qualidade e os últimos tempos têm sido particularmente gravosos para
uma parte das pessoas da escola, os professores, maltratados de forma
inaceitável por várias medidas da política educativa dos últimos anos.
Desde o aparelho do MEC, na definição das políticas
educativas adequadas nas mais variadas dimensões, ao trabalho das direcções das
escolas e agrupamentos, ao trabalho dos professores nas suas diferentes funções,
ao trabalho dos alunos e dos pais através do nada fácil trabalho educativo
familiar, o exercício da responsabilidade e a intervenção individual são os mais
sólidos instrumentos de qualidade ao serviço do sistema.
É nesta dimensão que me parece necessário insistir. A
comunidade deve ser mais exigente face ao desempenho e à qualidade no que
respeita a políticas educativas, na organização e funcionamento das escolas, no
que respeita ao trabalho com os miúdos e dos miúdos, no que respeita à
responsabilização e envolvimento das famílias, etc. Os meios e os recursos
sendo fundamentais, só por si não garantem sucesso e qualidade.
A questão é que a actual PEC – Política Educativa em Curso,
apesar de já não apostar nos edifícios, também não aposta nas pessoas e na qualidade
do seu trabalho, corta custos de forma cega e está cada vez mais claramente
assente numa agenda de desinvestimento na escola pública.
Essa é que é a questão, está para lá da melhor ou pior
qualidade dos edifícios escolares.
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