Segundo o EUROSTAT, em 2013 Portugal tinha 29.2% de
licenciados entre os 30 e os 34 anos. Esta taxa, apesar de uma subida relativamente
a 2012 é francamente inferior à média da UE, 36.8% e bem abaixo da meta de 40%
a atingir em 2020.
Um outro indicador interessante prende-se com o abandono
escolar entre os 18 e os 24 anos, 19,2%. Também aqui se verificou uma ligeira melhoria
mas continua a ser a terceira taxa mais alta da União Europeia.
Em complemento, dados de 2013 apontavam para a existência de cerca
de 440 000 jovens em Portugal, entre os 15 e os 34 anos, que nem estudam, nem trabalham, a
geração “nem nem”.
Por outro lado, é também importante registar níveis
preocupantes de abandono de cursos por parte de alunos do ensino superior ainda
que se verifique um aumento de alunos com bolsa, o que é verdadeiramente
inquietante.
Recordo que há meses, um estudo patrocinado pela Comissão
Europeia em oito países da Europa revelava, sem surpresa, que Portugal
apresenta uma das mais altas percentagens, 38%, de jovens que gostava de
prosseguir estudos mas não tem meios para os pagar. Do mesmo estudo
também releva a falta de informação expressa pelos jovens sobre o mercado de
trabalho, o que também não surpreende dada a manifesta insuficiência dos
recursos em matéria de orientação vocacional em cujo âmbito pode ser
disponibilizada informação e orientação.
Retomando a dificuldade de muitos jovens em prosseguir
estudos por falta de verbas uma primeira referência, também hoje sublinhada na
imprensa, ao desinvestimento no ensino superior que se
verifica desde 2010 e que tem implicado fortíssimas reacções de universidades e
politécnico como temos verificado.
Recordo que, de acordo com o Relatório da OCDE, Education
at a glance 2013, Portugal é um dos países europeus em que a
frequência de ensino superior mais depende do financiamento das famílias, cerca
de 31% dos gastos de universidades e politécnicos. A média da OCDE é 32% e a da
União Europeia, 23,6%.
Esta informação não é nova. Na verdade e como é do
conhecimento das pessoas mais perto deste universo, o ensino superior em
Portugal, contrariamente ao que muita gente afirma de forma leviana, tem um dos
mais altos custos de propinas da Europa. Conforme dados de 2011/2012 da rede
Eurydice, Portugal tem o 10º valor mais alto de propinas na Europa, mas se se
considerarem as excepções criadas em cada país, tem efectivamente o terceiro
custo mais alto no valor das propinas.
Em 2012 foi divulgado um estudo realizado pelo Instituto de
Educação da Universidade de Lisboa que contribui para desmontar um equívoco que
creio instalado na sociedade portuguesa. Comparativamente a muitos outros
países da Europa, Portugal tem um dos mais altos custos para as famílias para
um filho a estudar no ensino superior, ou seja, as famílias portuguesas fazem
um esforço bem maior, em termos de orçamento familiar, para que os seus filhos
acedam a formação superior. Se considerarmos a frequência de ensino superior
particular o esforço é ainda maior. Percebe-se assim a taxa altíssima de jovens
que exprimem a dificuldade de prosseguir estudos.
As dificuldades pelas quais passam muitos estudantes do
ensino superior e respectivas famílias, quer no sistema público, quer no
sistema privado, são, do meu ponto de vista, considerados frequentemente de
forma ligeira ou mesmo desvalorizadas. Tal entendimento parece assentar na
ideia de que a formação de nível superior é um luxo, um bem supérfluo pelo que
... quem não tem dinheiro não tem vícios.
Neste quadro, a redução significativa de apoios, as
dificuldades enormes que muitas famílias atravessam e o desemprego mais elevado
entre os jovens, que poderia constituir uma pressão para continuar os estudos,
as elevadas propinas, designadamente no 2º ciclo, tornam ainda mais difícil a
realização de percursos escolares que promovam mobilidade social e que se
traduzem, por exemplo, no aumento das desistências.
Considerando, tal como Relatório da OCDE refere, o ainda
baixo nível de qualificação da população portuguesa e quando se espera e
entende que a minimização das assimetrias possa, também, depender da educação e
qualificação, o seu preço e as dificuldades actuais, longe de as combater,
alimenta-as.
Aliás, importa sublinhar que segundo o Relatório da OCDE,
"Education at a Glance 2012", a diferença salarial de jovens com
licenciatura para jovens com formação a nível do secundário, é de 69 % o que é
um bom indicador para o impacto da qualificação sendo Portugal um dos países em
que mais compensa adquirir formação e qualificação apesar de se estar a verificar a proletarização do emprego com o abaixamento de salários.
Neste cenário e como sempre afirmo, o discurso muitas vezes
produzido no sentido de que "não adianta estudar" não colhe e não tem
sustentação, sendo um autêntico tiro no pé de uma sociedade pouco qualificada
como a nossa.
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