sábado, 5 de abril de 2014

O VOLUNTARIADO DOS PROFESSORES

"Professores de Inglês "voluntários à força" para a correcção da prova"


De forma coerente com a sua obsessão com os exames, o MEC, numa pouco habitual e de estranhos contornos parceria público-privada, envolvendo a Universidade de Cambridge, Porto Editora, BPI, Connexall, Fundação Bissaya Barreto e Novabase, instituiu um exame de Inglês para os alunos do 9º ano e aberta também aos do 10º, 11º e 12º.
Acontece que os professores classificadores deste exame, professores de inglês obviamente, deverão realizar esta tarefa, que envolve ainda um período de formação em regime de voluntariado. Ao que parece, a apetência dos professores de inglês pelo voluntariado terá sido revista em baixa, é de grande austeridade, pelo que faltam os avaliadores.
O MEC, de forma expedita, por mail e telefone (é uma abordagem mais personalizada) entra em contacto com os directores das escolas e agrupamentos solicitando que indiquem “voluntários” para o exame de inglês. Vários directores consideram que este procedimento é uma forma de pressão inaceitável, é mais um factor de instabilidade nas escolas, é uma situação de difícil gestão dada a sobrecarga de trabalho que implica nesta altura do ano, pelo que não indicam “voluntários” ou fazem-no por receio de eventuais consequências.
Toda esta história constitui um exemplo, mais um, da deriva em que se tem tornado boa parte da PEC – Política Educativa em Curso. Um exame nacional imposto e obrigatório, independentemente da bondade da medida e do modelo escolhido, não pode assentar no voluntariado dos docentes. Devem ser previstas e acauteladas as condições para que essa tarefa se possa, ou não, inscrever na actividade profissional regular. No caso de exceder o que está definido terá, necessariamente, de ser considerada a forma e compensações que permitam a realização da tarefa suplementar.
O MEC não tem que promover o voluntariado dos professores para que desempenhem as tarefas que entende atribuir-lhes.
O MEC enviou voluntariamente muitíssimos docentes para o desemprego e agora espera que os que se mantêm em funções, com condições de sobrecarga e instabilidade, se disponham voluntariamente a tarefas não previstas. É de um enorme despudor.
Com o mesmo entendimento de Isabel Jonet, o MEC poderia pedir aos professores desempregados que, em vez de estarem nas redes sociais e entretidos em jogos virtuais, realizassem esta acção de voluntariado.

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