domingo, 6 de abril de 2014

EU NÃO QUERO ESTA ESCOLA E ESTA EDUCAÇÃO PARA O MEU NETO ...

A leitura tardia do Expresso de ontem motiva estas notas hoje. É apresentada uma peça sobre as escolas asiáticas de diferentes países, cujo alunos ocupam sete dos 10 lugares cimeiros do estudo PISA o que titula o Expresso "impressiona os europeus".
Parece-me claro que nos sistemas educativos e escolas destes países existirão dimensões de natureza curricular ou didáctico-pedagógica que deverão merecer reflexão que não cabe nestes espaço e que alguns países, incluindo Portugal, ensaiam.
O que me parece verdadeiramente interessante é o modelo de escola, de sociedade, de concepção sobre que o que são pessoas e a sua formação e desenvolvimento que devem ser reflectidas. Algumas notas com base em excertos do trabalho do Expresso que também se socorre do testemunho de portugueses que tiveram experiências em escolas de alguns daqueles países.
Mãe portuguesa em Xangai, "Quando o Sebastião tinha 4 anos, os professores perguntaram-me que profissão eu queria que ele seguisse no futuro". Respondi "qualquer uma que o fizesse feliz". Não perceberam. "Lá, as famílias decidem muito cedo o que querem que os filhos sejam, para que a escola os ponha em actividades direccionadas para essa área".
Mãe portuguesa em Singapura "Uma das primeiras coisas que mais a impressionou foi a dimensão das filas de crianças à porta dos centros de explicações ao fim de semana, "parecem formigas", "No 6º ano os alunos são submetidos a um exame nacional, Só os mais bem classificados acedem às escolas secundárias de elite, a que todos aspiram".
Mãe portuguesa na Coreia "Falhar na educação é falhar na vida. "acho que também por isso as taxas de suicídios são tão elevadas", (Nota minha - os estudos confirmam as altas taxas de suicídio infanto-juvenil nestas comunidades hiper-competivas), "Se a escola não for suficiente, recorre-se a centros de estudo privados (hagwon) que acolhem os jovens noite detro. O problema tornou-se tão sério que o Governo chegou a ponderar uma espécie de recolher obrigatório para ques alunos não passassem noites em branco a estudar. Cerca de 80% das crianças coreanas têm explicações".
Mãe portuguesa em Singapura, "Há a assumpção de que todos têm de ser bem sucedidos. Quem tem mais dificuldade é posto de parte. Estão a surgir cada vez mais casos de depressão entre as crianças".
Estes exemplos parecem-me suficientes para ilustrar tudo o que, do meu ponto de vista, não deve ser a educação, não deve ser a escola, não deve ser o desenvolvimento e formação de pessoas mesmo que os resultados escolares globais sejam muito bons. Nem todos os fins justificam todos os meios.
Pode parece estranho ou fora de uso a alguns, incluindo Nuno Crato e alguns pais seduzidos pela retórica da excelência, da competição, da selecção, mas a formação e a educação de pessoas é mais do que competências instrumentais aprendidas a qualquer preço, é mais do que seleccionar os melhores e abandonar os que não atingem a excelência, é mais do que robótica, é mesmo de pessoas que se trata em educação.
Eu não quero esta escola e esta educação para o meu neto e para todos os outros miúdos. Gosto de gente que sinta tão bem quanto possível naquilo que vai fazendo, coisa de que quando falamos alguns já se riem.
Eu não me importo.

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