No meio de milhares de espaços de venda que encerram todos os dias, um dos sinais do tempos que atravessamos, ainda é notícia o encerramento de mais uma livraria. Não estará tudo perdido, o encerramento de uma livraria merece uma referência na imprensa. Desta vez, pouco tempo depois da Livraria Portugal, chegou a vez da Poesia Incompleta sucumbir ao mercado, sempre o mercado. A Poesia Incompleta tinha a particularidade de ser dedicada à poesia. Num país de poetas poderia haver mercado para os livros de poesia, mas não, a amargura de Mário Guerra com a "crise do espírito" que atravessamos mostra que a poesia não vende, mas não se rende.
Não é só na área da poesia, os portugueses estão a comprar menos livros. Não tenho dados mais actuais e acredito que a situação tenha piorado mas no primeiro semestre de 2011, o abaixamento foi de 3%. Sobre este universo algumas notas.
Em primeiro lugar e em termos mais genéricos, a cultura em Portugal é um produto de luxo, veja-se também o preço dos CDs e dos espectáculos. O universo da cultura vive e vai viver numa apagada e vil tristeza orçamental. Sabe-se como os museus têm dificuldade em manter portas abertas, para não falar de investimento e manutenção nos respectivos espólios. Muito do que se realiza em Portugal em matéria de cultura está dependente de apoios privados, carolice e mecenato. A crise instalada agrava a situação.
Por outro lado, e no que respeita ao mercado livreiro, creio que uma das grandes razões para o preço dos livros será o reduzido volume de consumo desse bem por parte do cidadão comum. De facto, à excepção de alguns, poucos, nomes, edições reduzidas dificultarão, por questões de escala, o abaixamento do preço. Algumas editores ou grupos editoriais têm experimentado o lançamento de colecções com obras a mais baixo custo, mas muitos dos potenciais compradores dessas obras, já as terão adquirido pelo que, mais uma vez será difícil que sejam bem sucedidas essas edições. Se considerarmos o caso particular da poesia a situação pode ser um pouco mais negra, basta atentar nas montras ou nas listas dos mais vendidos num mercado gerido por meia dúzia de pontos de venda que asseguram o grosso do "rendimento" e por uma distribuição que trata, muitas vezes, o livro como apenas um produto e não o distribui como um "bem".
No entanto, penso que a grande aposta deveria ser no leitor e não no livro, ou seja, criando mais leitores, talvez as edições, que poderiam em todo o caso ser menos exigentes em papel e grafismo, ficassem mais acessíveis como se verifica noutros países. Esta batalha ganha-se na escola e na comunicação social. É certo que existe em actividade o Plano Nacional de Leitura que, parece, estará a dar alguns resultados, mas na comunicação social generalista, por exemplo na televisão, excepção à RTP2, o livro está praticamente ausente embora exista o sketch do conhecido entertainer político, conhecido por Professor, que ao Domingo à noite despeja livros em cima de uma secretária enquanto faz, dizem, comentário político.
Insisto, é um problema de leitores não de livros, aliás e estranhamente, nunca se publicou tanto como agora, aspecto que seria interessante analisar.
3 comentários:
Boas tardes, caro zé posso estar enganado na minha opinião, porém creio que é uma questão de livrarias, livros, leitores e preços, porque os preços dos livros não são baratos, e existe sempre mais alguma coisa em que gastar os euros. Pareçe um atentado à cultura, mas não é, repare que um dia destes fui à fnac e para adquirir um livro "paperback" portanto notoriamente mais barato do que as suas congenerés de capa dura, editado em Inglês, paguei 10€, parece pouco, porém essa percepção é meramente ilusória.
O livro custava: 5 libras estrelinas o que dá cerca de 5 euros e eu paguei, perdão iria pagar 10€ porém antes que realizassem essa elaborada manobra de me roubarem literalmente 5 euros, perguntei à empregada que se encontrava atrás do balcão porque é que iria pagar tanto por um livro cujo preço na conversão directa custava metade do preço. A rapariga sorriu, e disse: "Pois, peço desculpa mas não sou eu que faço os preços".
Pousei o livro, fui para casa. pesquisei e por 30 euros adquiri 4 livros em "paperback" (em inglês note-se), aguardei tranquilamente em casa e os livros vieram de Londres até à minha mão e não paguei mais um cêntimo.
Deixei de ir à Fnac e sempre que necessito ou quero um determinado livro, adquiro-o online, e quem diz livros adequa esta versatilidade e liberdade de escolha a quase tudo o resto.
Portanto para mim é sempre uma questão de Preço e bom senso.
E com este tipo de atitudes condeno, eu e muitos portugueses à penúria muitas livrarias, em Portugal.
:(
Olá Marco Santos. Como é evidente tenho pouco a acrescentar à realidade que descreve e que todos os que consomem livros conhecem. Um dos problemas, que aliás referi e sei por experiência própria e de colegas e amigos, é que distribuição, muitas vezes se concentra na maia dúzia de pontos que "mandam" no mercado (a FNAC é um deles) O mercado é distorcido, os livros acabam por ser caros e, claro, livrarias mais pequenas, são canibalizadas pelos grandes negociantes dos livros. É, dizem, o deus mercado.
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