Como era esperado, dado o nosso ordenamento constitucional, a iniciativa que creio inédita de, sob a forma de petição dirigida à Assembleia da República, se exigir a demissão do Presidente da República, foi rejeitada. Apesar disso e como referi na altura, a petição tem algum significado para além do número, 40 000 assinaturas.
Em primeiro lugar, creio que a emergência de movimentos cívicos ou de opinião fora do enquadramento partidário é, por princípio, positiva. Na verdade, nas últimas décadas em Portugal construiu-se uma partidocracia que tem conseguido, salvo raras excepções, capturar a participação e envolvimento cívico dos cidadãos. Provavelmente, este cenário é uma das razões para o fortíssimo e progressivo afastamento de muitos de nós de formas de participação e envolvimento cívicos mais activos.
Por outro lado, importa sublinhar que esta iniciativa decorre sobretudo como reacção a algumas intervenções públicas do Presidente, sobretudo quando abordou aspectos relacionados com as suas pensões e a insuficiência de rendimentos face a despesas.
Algumas vozes referiram declarações "infelizes" o que me parece uma fraca explicação. O Presidente da República não tem intervenções "infelizes", não porque detenha o inexistente dom da infalibilidade, mas porque o peso e o impacto das suas declarações não se compadecem com a incompetência e insensibilidade que, não é raro, caracterizam as intervenções de Cavaco Silva que, além disso, reclama sistematicamente uma superioridade moral e estatuto ético exemplares o que, evidentemente não é assim tão linear se atentarmos à carreira política e situações em que tem sido envolvido e nem sempre claramente explicadas como o episódio das escutas em Belém, património imobiliário, acções e relações com a SLN/BPN, etc. culminando na estranha catilinária contra José Sócrates no prefácio do seu livro Roteiros VI que até parte da sua gente, como se diz na política à portuguesa, se manifestou surpresa e desagradada.
Nesta perspectiva, a petição, apesar de rejeitada, deve ser lida como sinal de indignação face a este tipo de comportamento e também um sinal de que pode ser possível uma maior exigência social sobre os comportamentos dos políticos que, de uma forma geral, têm um estatuto de impunidade, nos discursos e nos comportamentos.
2 comentários:
O povo necessita de recuperar urgentemente a militância que o caracterizou em Setembro de 1974 quando com a sua "Vigilância Popular" versus "Maioria Silenciosa" também conhecida por "Minoria Tenebrosa".
Os tempos são outros e os adversários também, (será) mas igualmente perigosos. Senão vejamos a situação calamitosa em todas as áreas do tecido social. Nessa altura tinhamos um António Spínola agora temos um Aníbal Silva, ou seja, farinha do mesmo saco.
Bem, resumindo e concluindo: Temos que deixar de tomar os antidepressivos (consumo aumentou 68% nos últimos 5 anos) e irmos para a rua gritar a nossa indignação contra a partidocracia que suga a nossa dignidade, pão e identidade. Não tenham receio porque não vou falar do Acordo Ortográfico...
saudações
Post-Scriptum
Cartão amarelo também para o povo pela sua PASSIVIDADE.
saudações
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