Manda a liturgia dos processos eleitorais que o dia antes se dedique à reflexão. O day after dedicar-se-á ao “e agora?”. Mas deixemos o futuro para depois, como deve ser.
Tratemos então de reflectir. Creio que a maioria das pessoas que irá votar já decidiu em quem, a dúvida estará, provavelmente, em ir votar, ou não. Veremos os resultados, quem ganha, habitualmente ganham todos, que tipo de vitória e o nível de abstenção.
De qualquer forma, como de há muito reclamo, o cenário político entre nós, incluindo, a campanha eleitoral deveria merecer séria reflexão. Curiosamente, muitos discursos ouvidos vão também neste sentido mas a mudança é nenhuma, ou quase.
Importa reflectir, por exemplo, porque é que esta campanha eleitoral foi, do meu ponto de vista, uma das de mais baixo nível de discurso político da nossa história recente. No entanto, estas eleições realizam-se num dos mais complicados períodos da nossa história o que torna ainda mais estranho o clima em que decorreu a campanha. Nem os crispados anos políticos de 70 e início de 80 com discussões de forte carga ideológica produziram campanhas eleitorais tão despudoradas de princípios, carregadas de ataques pessoais e de “trabalho sujo” para substituir a discussão de ideias e projectos como esta.
Não me lembro de uma campanha eleitoral em que tantas referências se direccionassem para comparações, quase sempre disparatadas, com o passado em vez de assumirem propostas para o futuro.
Quando o futuro mais próximo parece carregado de nuvens negríssimas, ao fim de duas semanas de campanha continuámos sem saber, objectivamente, o que pensam as lideranças sobre como caminhar pelo estreito caminho que o negócio, chamam-lhe memorando de ajuda, com a famosa troika nos impôs. Sabemos sim que uns querem manter o poder e outros aceder-lhe, mas não é claro o que pretendem fazer com esse poder. Seria fundamental reflectir sobre isto.
Também me parece que vai sendo tempo de reflectir se o modelo actual de organização da actividade política, alimentador da partidocracia instalada e inibidor da participação cívica fora dos aparelhos partidários, é o que melhor se adequa à construção de sociedades modernas, abertas, participativas e preocupadas com a vida colectiva.
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