Enquanto os joelhos e a idade me permitiram fui um furioso praticante de futebol, amador é claro, que os dotes não davam para mais, embora a motivação fosse muita.
Nesses tempos quando nos queríamos referir a alguém que jogava à bola mas era "pé de pedra", usávamos uma expressão que de vez em quando recordo. Era qualquer coisa como "o tipo até nem é mau jogador, a bola é que o atrapalha um bocado".
Quase sempre recordo esta expressão quando oiço alguns pais, raros, e alguns professores, ainda mais raros, a falar dos miúdos, filhos ou alunos. De facto, às vezes, fico a pensar para com os meus botões, "até nem são mau educadores ou professores, os miúdos é que atrapalham um bocado".
E na verdade os miúdos atrapalham um bocado esta coisa de lidar com eles.
Continuam a ser fornecidos sem manual de instruções e muitas vezes sem serem desejados, pelos pais, ou objecto de investimento, por professores. Os miúdos nestas circunstâncias transformam, quer em casa quer na escola, a educação numa coisa a que chamo aturação, deixam de ser educados para passarem à condição de aturados ou suportados.
Os miúdos têm a mania de ser diferentes uns dos outros o que, obviamente, só atrapalha. Uns aprendem mais depressa, outros mais devagar, uns são mais inteligentes, outro são menos dotados, uns são mais simpáticos, outros são menos simpáticos, uns têm uma cor, outros têm outra, até há alguns a quem chamam mesmo os diferentes, esses é que atrapalham mesmo. E mais diferenças podíamos enunciar porque não existe alguém igual a outro alguém.
Além disso e para complicar a atrapalhação, os miúdos precisam que lhes dêem tempo, lhes dêem atenção e disponibilidade, bens que, como sabem, não são fáceis de providenciar.
Bom, bom seria, se eles aprendessem todos a mesma maneira e sem grandes ajuda, que eles crescessem por si e sem incomodarem muito, ficava tudo bastante mais fácil. Lamentavelmente, a coisa não funciona assim e para algumas pessoas, muito poucas, mesmo muito poucas, os miúdos atrapalham mesmo.
E os miúdos sabem quando atrapalham, uns gritam para dentro, outros gritam para fora.
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