Na mesma semana em que se produziram inúmeros discursos registando o facto de a Presidência da Assembleia da República ser pela primeira vez assumida por uma mulher, Assunção Esteves, D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa, afirma no JN que as mulheres só serão ordenadas quando Deus quiser, o que me parece significar nunca, pois os homens, estes homens, o poder dentro da igreja, não quererão, esperam que seja Deus a querer.
Curiosamente, há já algum tempo D. José Policarpo avisou ser necessário ter cuidado com os muçulmanos pois as meninas europeias correm o sério risco de arranjar um monte de sarilhos ao casarem-se com a gente de Alá. Apesar de defensor do diálogo inter-religioso, D. José Policarpo alerta para as especificidades religiosas e para as suas implicações, por exemplo, ao nível da condição feminina.
É importante este aviso e esta preocupação.
Estranho, no entanto, as sucessivas posições da igreja desfavoráveis ao divórcio quando, manifestamente, a família não funciona e estranho o entendimento de que as pessoas divorciadas percam “direitos” de natureza religiosa. Estranho o imobilismo face à discriminação do acesso das mulheres ao sacerdócio agora reafirmado colocando a decisão nas insondáveis mãos de Deus. Estranho o ruidoso silêncio sobre maus-tratos e violência doméstica dirigidas a mulheres, à luz do princípio de que “há que proteger a família”. Estranho as posições da igreja face à interrupção voluntária da gravidez e da contracepção, que, frequentemente, estão na base de situações de grande sofrimento para as mulheres e, eventualmente, para muitas crianças.
É velha a presunção de superioridade religiosa, apenas se actualizam os discursos. Talvez também seja por esta aparente incapacidade de ajustamento a tempos que são diferentes que se regista um progressivo afastamento, designadamente entre os mais novos, das convicções religiosas.
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