Ainda no rescaldo dos mais recentes e mediatizados episódios de violência entre jovens e antes que o próximo aconteça, julgo ser de reflectir num facto que alguma imprensa referiu e que passou, creio, sem registo. Os pais de uma das miúdas envolvidas terão tido a iniciativa de "entregar" a filha à PSP e na sequência a jovem foi enviada para um Centro Educativo.
Sem possibilidade de a confirmar e partindo da sua veracidade, esta informação remete para uma matéria que algumas vezes tenho abordado no Atenta Inquietude e que entendo nem sempre merecer a atenção que justifica. Refiro-me às dificuldades, diria incapacidade, que muitos pais sentem para lidar com os problemas colocados pelos filhos.
Segundo alguns dados, cerca de 9%, dos casos de pedido de ajuda às Comissões de Protecção de Crianças e Jovens foram realizados pelos pais, o que corresponde a perto de 2350 situações.
Na maioria dos pedidos tratava-se obviamente de situações em que os pais já não conseguem controlar os comportamentos e atitudes de adolescentes, ou mesmo de crianças, pelo que recorrem às Comissões. Estas, através de um esforço de mediação, procuram evitar a situação, por vezes desejada pelos pais, da retirada da criança ou jovem do agregado familiar com recurso à institucionalização.
De facto, de há muito afirmo que o exercício da parentalidade não é tarefa fácil, as crianças e adolescentes colocam problemas novos com que muitos pais, e até profissionais, têm dificuldade em lidar. Embaraça-me a excessiva ligeireza com que frequentemente se culpam os pais pelos problemas dos filhos. Enquanto pais serão responsáveis, mas por vezes os problemas estão para além da capacidade de resposta das famílias. Não estou a falar dos casos de negligência, que também existem e devem ser objecto de intervenção, mas de dificuldades reais sentidas por pais que querem ser bons pais e da inexistência de estruturas de apoio acessíveis e generalizadas que ajudem a lidar com essas dificuldades.
Neste contexto e porque os problemas das crianças e jovens em idade escolar não podem deixar de envolver as escolas, parece-me imprescindível que nos estabelecimentos educativos ou próximo e com funcionamento articulado, existam dispositivos de apoio às famílias e ao exercício da parentalidade que ajudem no trabalho dos pais e à relação destes com a escola.
Como já disse várias vezes nestes últimos dias a detenção dos jovens, podendo ser uma necessidade justificada em algumas situações, até pela repercussão social na perspectiva de combate ao sentimento de e insegurança, não pode ser a única solução.
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