sexta-feira, 24 de junho de 2011

ESCOLAS BEM ORGANIZADAS, GERIDAS E LIDERADAS, MAS COM MENOR CAPACIDADE DE MELHORIA

São conhecidos os resultados da avaliação externa dos agrupamentos e escolas realizada pela Inspecção-geral de Educação no ano lectivo 2009/2010. Num universo de 233 agrupamentos e 67 escolas, quatro estruturas educativas obtiveram "muito bom" nos cinco parâmetros considerados, "Resultados", "Prestação de serviços educativos", "Organização e gestão escolar", "Liderança" e "Auto-regulação e melhoria".
Neste espaço não é possível uma reflexão mais aprofundada sobre estes dados começando pelos instrumentos e metodologia de avaliação. Apenas algumas notas telegráficas.
O parâmetro "Capacidade de auto-regulação e melhoria" é o que merece uma avaliação menos positiva, quase metade das estruturas avaliadas não vai além do "Suficiente" o que contrasta com "Organização e gestão escolar" e "Liderança" em que 92% merecem "Muito bom". Parece também interessante sublinhar o excesso de carga burocrática que o modelo de avaliação em utilização exige e a necessidade de que a avaliação ponderasse factores de natureza contextual como condições económicas e sociais dos territórios educativos em que se inscrevem as diferentes escolas e agrupamentos. São dados curiosos.
Se bem entendo as escolas e agrupamentos estão muito bem organizadas, muito bem lideradas mas não têm capacidade de melhoria e regulação. Parece no mínimo estranho. Creio não estar enganado no entendimento de que a melhoria e regulação dependem da organização e gestão escolar e, obviamente, da liderança. Como entender pois, que agrupamentos e escolas bem organizadas, geridas e lideradas revelem uma menor capacidade de melhoria e regulação?
Do meu ponto de vista, já o tenho afirmado, o actual modelo de organização das escolas e do trabalho dos professores leva a que um número extraordinário de horas de trabalho dos docentes seja dedicado a um conjunto interminável de actividades, a inúmeras tarefas de natureza quase administrativa, para além das reduções inerentes à progressão na carreira e de outras funções não lectivas. Tudo isto contribui para que em termos práticos tenhamos um modelo menos eficiente e facilitador do trabalho dos alunos e os próprios professores, cujo empenho e profissionalismo esbarra muitas vezes com modelos inadequados de organização e funcionamento das escolas. Este quadro parece-me contribuir para entender a dificuldade de promover regulação e melhoria em estruturas que, paradoxalmente, se consideram "bem organizadas e geridas". Parece-me que não estão e este é um aspecto central.
Temo que a necessária discussão sobre os dados da avaliação se centre excessivamente em aspectos de forma e menos nos e menos nos aspectos essenciais, as práticas que se desenvolvem, os modelos (no plural) de organização e do trabalho em sala de aula, os modelos de organização e funcionamento das escolas, o modelo e a organização da carreira docente envolvendo os conteúdos funcionais, etc., ou seja, um caminho efectivo e desejável de autonomia das escolas e agrupamentos.

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