quarta-feira, 15 de junho de 2011

OS FUGITIVOS

Existe um grupo de miúdos que costumo designar como fugitivos. São os que, como diria António Variações, só estão bem onde não estão.
Quando entram na escola cumprem o calendário do desconforto, não se sentem bem e mostram, quase sempre através do seu comportamento e da falta de resultados que não estão bem e fogem. Fogem para o grupo, os grupos, que, nas mais das vezes é composto por outros fugitivos e nem sempre estar juntos chega para que se sintam bem. E voltam a fugir. Fogem para rua onde olhares desconfiados e dedos acusadores, reais ou imaginados, os obrigam a fugir, de novo.
Fogem para casa e também aí o desconforto é grande, falta atenção, falta afecto e claro fogem. Fogem para um ecrã onde com frequência encontram uma rede de fugitivos que se cruza por ali para mascarar a solidão e voltam a fugir.
Alguns destes fugitivos vão passar boa parte da sua vida a fugir, de mal-estar em mal-estar. Outros podem encontrar no meio das fugas alguém que simplesmente lhes diga, "Espera, pára um pouco, estou aqui, tenho tempo e gostava de falar contigo".
Às vezes, é um começo.

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