Existe um grupo de miúdos que costumo designar como fugitivos. São os que, como diria António Variações, só estão bem onde não estão.
Quando entram na escola cumprem o calendário do desconforto, não se sentem bem e mostram, quase sempre através do seu comportamento e da falta de resultados que não estão bem e fogem. Fogem para o grupo, os grupos, que, nas mais das vezes é composto por outros fugitivos e nem sempre estar juntos chega para que se sintam bem. E voltam a fugir. Fogem para rua onde olhares desconfiados e dedos acusadores, reais ou imaginados, os obrigam a fugir, de novo.
Fogem para casa e também aí o desconforto é grande, falta atenção, falta afecto e claro fogem. Fogem para um ecrã onde com frequência encontram uma rede de fugitivos que se cruza por ali para mascarar a solidão e voltam a fugir.
Alguns destes fugitivos vão passar boa parte da sua vida a fugir, de mal-estar em mal-estar. Outros podem encontrar no meio das fugas alguém que simplesmente lhes diga, "Espera, pára um pouco, estou aqui, tenho tempo e gostava de falar contigo".
Às vezes, é um começo.
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