Soube-se hoje que no próximo ano lectivo, de acordo com o calendário divulgado pelo ME já se realizarão exames no 2º ciclo. Não é surpresa, consta do programa do governo e vai ao encontro do discurso recorrente do Professor Nuno Crato.
Conheço estas posições mas ainda não percebi como é que, objectivamente, a introdução de mais exames contribui para a qualidade da educação em termos genéricos e torna mais bem sucedido o trabalho de alunos e professores, partindo do princípio de que os exames não servirão para promover "administrativamente" (por assim dizer) bons resultados. Os discursos que oiço na defesa dos exames não explicitam os ganhos de que aí advirão como hoje referiam os Professores Adalberto Dias de Carvalho da Univ. do Porto e José Pacheco da Univ. do Minho.
Esta ideia parece decorrer da estranha convicção de que se medir muitas vezes a febre, esta irá baixar o que é, no mínimo, ingénuo.
A introdução de mais exames como panaceia da qualidade promove, do meu ponto de vista, o risco do trabalho escolar se organizar centrado na preparação dos alunos para a multiplicidade de exames que realizam, ou seja, como me dizia há tempos um professor do ensino secundário, "o trabalho com os alunos é muito interessante mas a partir de certa altura sou eu e eles contra os exames".
A qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados e de vias diferenciadas de percurso educativo para os alunos sempre com a finalidade de promover qualificação profissional, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc. O problema é que de há muitos anos a educação anda à deriva das agendas políticas.
A defesa de mais exames, como muitas vezes é feita, corre o risco de sustentar um discurso demagógico, as referências a exigência e a rigor vendem bem, que deixa de lado os aspectos mais essenciais, a necessidade de promover qualificação para todos, sublinho todos, os alunos. Esta qualificação pode obter-se em diferentes níveis, desde o curso profissionalizante de curta duração até ao doutoramento.
E nesta perspectiva continuo pouco convencido da imprescindibilidade de mais exames, embora me pareça que é fundamental antecipar as consequências desta medida que parece irreversível.
6 comentários:
Não li até ao fim - só até perceber que não sabe do que fala. O melhor (de longe) preditor de aprendizagem e retenção de conteúdos é o número de testes efectuados. São resultados fortes e inequívocos.
A sua analogia com a medição de febre é descabida, no mínimo: pressupõe que os alunos não fazem nada antes da medição para alterar o resultado desta.
Luís
Meu caro, não falei de testes, falei de exames finais. Como certamente saberá, não são a mesma coisa e não cumprem a mesma função. Quanto à analogia, serve para mostrar que não são conhecidas nenhumas medidas que se destinem a promover a qualidade do do trabalho dos miúdos para além de mais exames.
Ai' ja' esta' a por o dedo na ferida. Partilho das criticas do novo ME em relacao ao modelo cognitivo-construtivista dominante na formacao de professores e nos metodos de ensino tradicionais, mas realmente ele nao parece saber muito sobre as melhores alternativas a esse modelo. Mais testes (e mais exames) fazem parte desse modelo, mas repare que o ME tem pouco poder relativamente ao que se passa na sala de aula relativamente ao numero de testes. Quando muito penso que poderia fazer sugestoes nesse sentido.
Do meu ponto de vista, a questão central na formação de professores não é o modelo, (aliás, aquilo a que chama de modelo cognitivo-construtivista nem sequer é um modelo de formação) é tão somente uma questão de qualidade que, por demissão da tutela e interesses outros, não é minimamente regulada. De há muito
Oh Luís, nitidamente não leu até ao fim.
Nitidamente o pouco que leu, foi na diagonal.
Assim, quando a vontade e a capacidade é pouca, não se trás muita discussão para cima da mesa pois não? O que foi o caso com o Luís. Para começar não defende o seu ponto de vista, não o explica nem tão-pouco me diz um "porque".
O melhor método de avaliação de retenção (retenção de aprendizagem não é o mesmo que "aprender". Talvez um dia aprenda a diferença) de aprendizagem é uma avaliação dos processos de reprodução das temáticas em contextos. Chame-lhe o que quiser agora.
Falando especificamente dos "testes" que você tão prosaicamente atira, espero que tenha consciência de como um "teste" pode variar em validade e no seu carácter "inequívoco". Não é muito difícil pensar se não lhe doer o exercício.
Logo aqui não compreendo porque acha descabido o exemplo da "testagem febril", com muito intencionado trocadilho. Pelo simples motivo que você parte também do pressuposto que o teste "inequívoco" mede essa preparação de modo igual e justo, seja que teste for e em que altura da preparação for. Pior, acredita que testando mais, se prepara o aluno mais. Logo, mede mais vezes a febre.
Elasticidade mental.
Para a próxima leia até ao fim. E se lhe chateou algo que leu, respire, volte a ler, e comente, e não se atire à caixa de comentários imediatamente.
Concordo com o que referiu. A partir da minha experiência pessoal, notei que, havendo mais exames, as pessoas tendem a tentar absorver matéria em tempo record para conseguirem passar em cada exame. Porém, daí a umas semanas já não se recordam daquela matéria.
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