No Público de hoje está uma
reportagem interessante sobre o universo das juventudes partidárias. Apesar das
excepções e de alguns discursos a tentar combater a ideia, existe a convicção de
que o envolvimento numa juventude partidária pode ser uma das mais eficazes
formas de progressão social e profissional existente em Portugal, sobretudo,
naturalmente, nos partidos do chamado arco do poder.
Há algum tempo também o Público
procedeu a um levantamento da rapaziada mais novinha, sem currículo relevante,
académico ou profissional, que enxameia gabinetes ministeriais e os números eram
elucidativos. Como característica comum encontrou a pertença à "sua"
jota onde desempenharam cargos que os catapultam para assessores ou deputados e
são o início de uma bela e promissora carreira, numa despudorada utilização da
administração pública, central, local e empresarial para a distribuição de
alguns jobs para os promissores boys e girls. A sociedade portuguesa está cheia
de exemplos deste tipo de percursos nas suas diferentes fases.
Um deles é a história do meu
amigo Alpinista. Nasceu numa terra pequena onde muita gente gostava de praticar
a subida, na vida, é claro. Uns conseguiam subir alguma coisa, outros nem
tanto, mas tinham pena.
O Alpinista, foi um rapaz
discreto sem de início revelar algumas especiais capacidades ou dotes que o
habilitassem ao sucesso, subir na vida. No entanto, tinha alguma capacidade
discursiva, era perspicaz e assertivo, conseguia perceber sem grande
dificuldade o caminho a seguir e fazia-o de forma convicta.
Durante a adolescência e olhando
para o que se passava naquela terra, tudo o que era lugares importantes eram
ocupados de acordo com o aparelho partidário do partido que ocupasse o poder
naquela altura e verificando que outros lugares exigiriam um mérito a que ele
não acederia rapidamente, decidiu-se pela via partidária. Analisou a oferta e
optou pelo partido que lhe pareceu com maior probabilidade de ocupar o poder
durante mais tempo inscrevendo-se na juventude partidária. Diligentemente o
Alpinista cumpria as tarefas que lhe eram cometidas e com a sua capacidade
discursiva foi subindo na hierarquia, tendo chegado a um patamar que lhe
garantiu um lugar nas listas de deputados em representação da juventude.
Entretanto inscreveu-se numa daquelas universidades em que a exigência em
certos cursos, sobretudo para figuras de algum relevo público, não é muito
grande, mas que, para compensar, as notas são mais altas e passou a Dr.
Alpinista. O bom desempenho no aparelho do partido e a fidelidade canina no
Parlamento, levaram-no a uma irrelevante Secretaria de Estado durante alguns
mandatos. A sua acção, socialmente insignificante, mas partidariamente
relevante, valeu-lhe, à saída do Governo, um lugar na administração de uma
empresa de capitais públicos de uma área que ignorava por completo.
Alguns anos depois, poucos
naturalmente, o Alpinista reformou-se, retirando-se para uma das propriedades
que faziam parte do património que entretanto tinha adquirido e dedicou-se à
escrita.
O livro que produziu,
autobiográfico, rapidamente se transformou num enorme sucesso, tem por título,
“O Manual do Alpinista” e consta obrigatoriamente das bibliografias
distribuídas nas Universidades de Verão dos diversos partidos.