Aqui está, do meu ponto de vista,
o que, em princípio, é uma boa notícia. A Secretária de Estado da Inclusão
anunciou a intenção de restrição da aplicação do chamado Currículo Específico
Individual (CEI). Apenas para os alunos com deficiência profunda será considerada
a definição de Currículo Específico Individual.
A justificação para esta decisão
assenta no elevado número de alunos a que actualmente é aplicada, em muitos
casos, em fases demasiado precoces do seu trajecto educativo e das implicações em
termos de percurso escolar futuro.
Muitas vezes aqui tenho referido esta
questão e retomo algumas notas.
Os modelos curriculares que
temos, demasiados, fechados, prescritivos e extensos são pouco amigáveis das
diferenças entre os alunos, são mais amigáveis a uma pouco sustentada ideia de
normalização, todos são capazes de aprender, da mesma forma, as mesmas matérias, ao
mesmo tempo. Veja-se a questão das metas curriculares, tal como estão definidas
e não a sua existência.
Neste contexto, a tentação
legislativa e prática é que se um aluno não “cabe” neste currículo e muitos não
“cabem” é criar, admitir, “alternativas curriculares, com designações e alcance
diversos, para onde derivam os alunos não “normalizáveis” acentuando-se a
questão à medida que se intensificam as dificuldades ou limitações dos alunos.
Até que chegámos ao “Currículo
Educativo Individual”, uma bizarrice conceptual que, aparentemente continua a
existir ainda que, felizmente, mais parcimoniosamente administrada. Na verdade,
apesar de muitas tentativas e alguma pesquisa ainda não consegui entender muito
bem como um Currículo “individual” não seria específico. Mas bom, temos o CEI,
aliás, até oiço com demasiada frequência referir os CEIS, isto é, os alunos com
CEIs. Sem comentários. Lamentavelmente, ainda não se anunciam alterações nesta
forma gerir a questão do currículo no âmbito os alunos com necessidades
educativas embora a restrição me pareça positiva.
Estas sucessivas “alternativas”
curriculares que terminam no CEI acabam por se tornar uma espécie de “gueto”,
às vezes também com fronteiras físicas, do qual muito dificilmente algum aluno
sairá e se aproximará de uma trajectória mais próxima dos seus colegas de idade
e percurso escolar.
Acresce que para este “CEI” são
enviados alunos com algumas problemáticas e idades para as quais essa “condenação”
parece injustificável e, como disse, com consequências muito pesadas.
Sim, não precisam de me dizer, eu
sei, que a realidade não é toda assim, existem muito boas práticas, é verdade. Mas
também é verdade que parte da realidade é a que descrevo.
Curiosamente, tudo o que
acontece, de bom ou menos bom é feito em nome … da inclusão. Como sempre,
aliás.
Não sei como será levada à prática
esta decisão de restrição da aplicação da medida CEI, a avaliação competente das crianças por exemplo, temos um sistema sem
dispositivos de regulação, confio que possa ter algum impacto positivo, quero
acreditar que sim, mas é preciso não esquecer que a questão de fundo radica na
concepção, organização e conteúdos dos currículos, os de todos, para todos.
1 comentário:
Também quero acreditar que virá algo de positivo ...a ver vamos.
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