Está hoje a decorrer um evento de
apresentação das Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar. Não
sendo um especialista considero que se trata de um documento sólido e útil como contributo para repensar o caminho que tem vindo a ser percorrido no universo da educação.
Como não podia deixar de ser, do
meu ponto de vista evidentemente, em matéria de avaliação é definido com
clareza que a avaliação em educação pré-escolar não se destina a “medir” ou a “classificar”
mas a “regular” os processos educativos e o trabalho de crianças e educadores.
A este propósito, recordo que há
cerca de um ano e face a alguns relatos e conhecimento de situações pedi que
fizessem chegar ao Atenta Inquietude alguma informação sobre o que estava a
acontecer em matéria de avaliação em educação pré-escolar, designadamente a
existência de orientações/exigências em alguns agrupamentos, por parte das
direcções ou da tutela, para que as avaliações às crianças fossem objecto de
quantificação ou que dados de avaliações qualitativas fossem transformados em
dados quantitativos.
Recupero alguns dos testemunhos.
"sim, confirmo. com check list de metas e sub metas para todas as
áreas e conteúdo e para as 3 idades. alguns casos com menções qualitativas,
outros casos com um tipo de código quantitativo que permite, depois, a sua
análise estatística e apresentação de resultados iguais aos outros níveis de
ensino."
"também confirmo... com percentagens e tudo."
"De facto, a diversidade de "modelos" de avaliação na
Educação Pre-Escolar, decorrente quer das incoerentes e inconcebíveis
"orientações" legais, mas também das diversas interpretações que
muitos agrupamentos fazem dessas mesmas "orientações" têm provocado
um sem fim de "anormalidades" que vão desde as
"quantificações" de resultados à existência de grelhas de avaliação e
"fichas de observação" que, em alguns casos chegam a ter 150
"critérios avaliáveis"."
"Confirmo. E o meu horário já está dividido por horas (p.e segunda
das 9:00 às 9:30 matemática e assim sucessivamente para todos os domínios) e
com coadjuvações. As metas foram divididas pelos 3,4 e 5 anos."
"Confirma-se. E passa por todos os setores: público, privado e
IPSS
"Com horários dividido por horas (p.e segunda das 9:00 às 9:30
matemática e assim sucessivamente para todos os domínios) e com
coadjuvações."
"no meu Agrupamento insistiu-se na ideia peregrina de
"aproximar" os "sistemas de avaliação" do pré e do 1o.
Ciclo, através de "instrumentos" semelhantes."
Também recebi alguns relatos de boas
práticas mas fiquei perplexo e deveras preocupado com a educação pré-escolar a
ser também atormentada com a febre da medida.
É um lugar-comum afirmar que a
realidade supera a ficção mas fiquei perplexo.
A febre da medida está a chegar à
educação pré-escolar de uma forma preocupante e era coerente com a examocracia
instalada.
Como é claro para toda gente no
mundo da educação, a avaliação e a medida em contextos de aprendizagem são
ferramentas fundamentais como reguladores da qualidade dos processos
educativos.
Como também é claro que as
crianças são diferentes, os contextos educativos e institucionais são
diferentes como instituições educativas, educadores e professores devem ter
autonomia que lhes permitam responder e acomodar as diferenças referidas
relativas a alunos, instituições e contextos.
Acresce que os diferentes
patamares do sistema educativo têm particularidades que devem ser acauteladas.
Neste sentido, a educação pré-escolar tem uma função e um conjunto de
objectivos que sustentam a desadequação de definir a medida e a classificação
como reguladores da qualidade do trabalho de adultos e crianças.
Andam bem as Orientações
Curriculares para a Educação Pré-escolar em promover com clareza dispositivos
de avaliação não centrados na medida e na classificação mas na regulação dos
processos e no desenvolvimento educativo das crianças.
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