Segundo a Direcção-geral de Estatísticas da Educação e Ciência, entre 2000/2001 e 2014/2015 passámos de 14533 escolas
públicas para 6161, uma queda de 58%, sendo que o ensino privado no mesmo
período passou de 2608 estabelecimentos para 2737.
Tal como se verifica com a
significativa queda do número de professores também o encerramento de escolas
não é apenas justificado pelo abaixamento do número de alunos. Aliás, o quadro em baixo ajuda a perceber.
Como muitas vezes escrevi a
política de encerramento de escolas assentou num princípio necessário de
reorganização de uma rede já desadequada por ineficiente e onerosa.
No entanto, considerando os
impactos que o encerramento dos equipamentos sociais têm na desertificação do
país e nas assimetrias de desenvolvimento, a decisão de encerrar escolas não
deveria ter sido ser vista exclusivamente do ponto de vista administrativo e
económico, não podendo assentar em critérios cegos e generalizados, esquecendo
particularidades contextuais e, sobretudo, não servir como tudo parece servir
em educação, para o jogo político, local ou nacional.
Por outro lado, este movimento de
reorganização da rede escolar e fechamento de escolas, de construção dos
centros educativos e da constituição de mega-agrupamentos, criou situações em
que as dimensões e características são fortemente comprometedoras da qualidade, com riscos e consequências já conhecidas, os mega-agrupamentos produzem
mega-problemas.
É também verdade que menos
escolas e agrupamentos e direcções unipessoais tornam também mais fácil o
controlo político de um sistema ainda altamente centralizado apesar da retórica
de autonomia. Este controlo é, naturalmente, uma tentação de sempre de qualquer
poder.
De há muito que se sabe que um
dos factores mais contributivos para o insucesso, absentismo e problemas de
disciplina escolar é o efectivo de escola. Não é certamente por acaso, ou por
desperdício de recursos, que os melhores sistemas educativos, lá vem a
Finlândia outra vez, mas também os Estados Unidos ou o Reino Unido procurando a
requalificação da sua educação, optam por estabelecimentos educativos que não
ultrapassam a dimensão média de 500 alunos. Sabe-se, insisto, de há muito, que
o efectivo de escola está mais associado aos problemas que o efectivo de turma,
ou seja, simplificando, é pior ter escolas muito grandes que turmas muito
grandes, dentro, obviamente dos limites razoáveis. É certo que o ME tem feito o
pleno, aumenta o número de alunos por escola e o número de alunos por turma o
que leva à “dispensa” de professores. Como habitual o Ministério foi citando ou
ignorando estudos, experiências e especialistas, nacionais ou internacionais,
conforme a agenda que lhe fosse favorável. A contabilidade, cortes em
professores e funcionários, tem falado mais alto que a qualidade.
As escolas muito grandes, com a
presença de alunos com idades muito díspares, são autênticos barris de pólvora
e contextos educativos que dificilmente promoverão sucesso e qualidade apesar
do esforço de professores, alunos, pais e funcionários. Recorrentes episódios e
relatos de professores sustentam esta afirmação.
Por outro lado, a experiência já
conhecida mostra casos de distâncias grandes entre a residência dos miúdos e os
centros escolares, levando que devido à difícil gestão dos transportes escolares,
os miúdos passem tempos sem fim nos centros escolares, experiência que não é
fácil, sobretudo para os miúdos mais pequenos.
Em síntese, parece-me razoável
que algumas escolas, sobretudo do 1º ciclo, tenham sido encerradas mas o
recurso a critérios burocratizados e administrativos, como a análise simples do
número de alunos, levou a situações de sério compromisso da qualidade da
educação e mesmo da qualidade de vida de muitos alunos.
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