Em pouco tempo fomos confrontados
com tragédias cuja racionalidade nos escapa, duas ocorridas na Alemanha, envolvendo
jovens, e em Nice com acto absolutamente impensável e de consequências
devastadoras.
Ontem em Munique um jovem alemão
de origem iraniana, considerado um rapaz calmo e insuspeito de comportamentos
de grande violência matou 9 pessoas, maioritariamente jovens como ele, num
espaço público da cidade acabando, ao que parece, por se suicidar.
É hoje divulgada a sua apetência
por matérias como os tiroteios em escolas ou o episódio dramático protagonizado
por outro jovem, Anders Breivik, que assassinou 77 jovens na Noruega em 2011.
Tal como naquela altura
invade-nos um sentimento de perplexidade. Porquê?
Acontece que com uma regularidade
impressionante têm ocorrido episódios desta natureza ainda que, felizmente, com
menor gravidade, lembremo-nos de situações em Inglaterra, nos Estados Unidos,
em França ou na Finlândia, o que torna fundamental, refiro-o muitas vezes, que
estejamos atentos e inquietos. Em alguns casos, lembro-me, por exemplo, dos
distúrbios de há uns anos em Inglaterra em que os comportamentos observados se
assemelhavam grotescamente a um videojogo violento com personagens reais.
Também em Portugal se têm
verificado alguns casos de violência extrema envolvendo jovens, apesar de
terem, felizmente, efeitos menos trágicos, levando-nos a questionar os nossos
valores, códigos e leis pela perplexidade que nos causam.
Esta perplexidade exige a necessidade
de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação do mal"
que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na infância e adolescência, a partir de
situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas mas que insidiosamente começam a ganhar um peso interior insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por
duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva,
possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e
agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que
pode ser um tiroteio numa escola ou noutro espaço público, a bomba
meticulosamente e obsessivamente preparada ou uma investida contra alguém
arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina",
em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói
valores e gente.
É evidente que a punição e a
detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade
perigosamente presente na nossa comunidade mas é minha forte convicção de que
só punir e prender não basta.
Assim, sabendo que prevenção e
programas comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que
custa prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada
e da insegurança.
Importa ainda estratégias mais proactivas
e eficientes de minimizar a guetização e "quase total" desocupação
de, em Portugal, centenas de milhares de elementos da geração "nem,
nem" nem estuda, nem trabalha. Para esta gente, o futuro passa por onde,
por quem e porquê?
Finalmente, a importância de uma precoce
e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto
quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se
percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
Nos Estados Unidos, na Noruega,
na França, na Alemanha ou em Portugal.
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