sábado, 23 de julho de 2016

O MAL-ESTAR COMO SEMENTE

Em pouco tempo fomos confrontados com tragédias cuja racionalidade nos escapa, duas ocorridas na Alemanha, envolvendo jovens, e em Nice com acto absolutamente impensável e de consequências devastadoras.
Ontem em Munique um jovem alemão de origem iraniana, considerado um rapaz calmo e insuspeito de comportamentos de grande violência matou 9 pessoas, maioritariamente jovens como ele, num espaço público da cidade acabando, ao que parece, por se suicidar.
É hoje divulgada a sua apetência por matérias como os tiroteios em escolas ou o episódio dramático protagonizado por outro jovem, Anders Breivik, que assassinou 77 jovens na Noruega em 2011.
Tal como naquela altura invade-nos um sentimento de perplexidade. Porquê?
Acontece que com uma regularidade impressionante têm ocorrido episódios desta natureza ainda que, felizmente, com menor gravidade, lembremo-nos de situações em Inglaterra, nos Estados Unidos, em França ou na Finlândia, o que torna fundamental, refiro-o muitas vezes, que estejamos atentos e inquietos. Em alguns casos, lembro-me, por exemplo, dos distúrbios de há uns anos em Inglaterra em que os comportamentos observados se assemelhavam grotescamente a um videojogo violento com personagens reais. 
Também em Portugal se têm verificado alguns casos de violência extrema envolvendo jovens, apesar de terem, felizmente, efeitos menos trágicos, levando-nos a questionar os nossos valores, códigos e leis pela perplexidade que nos causam.
Esta perplexidade exige a necessidade de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na infância e adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas mas que insidiosamente começam a ganhar um peso interior insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva, possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que pode ser um tiroteio numa escola ou noutro espaço público, a bomba meticulosamente e obsessivamente preparada ou uma investida contra alguém arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina", em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente.
É evidente que a punição e a detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade perigosamente presente na nossa comunidade mas é minha forte convicção de que só punir e prender não basta.
Assim, sabendo que prevenção e programas comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada e da insegurança.
Importa ainda estratégias mais proactivas e eficientes de minimizar a guetização e "quase total" desocupação de, em Portugal, centenas de milhares de elementos da geração "nem, nem" nem estuda, nem trabalha. Para esta gente, o futuro passa por onde, por quem e porquê?
Finalmente, a importância de uma precoce e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
Nos Estados Unidos, na Noruega, na França, na Alemanha ou em Portugal.

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