No fim de uma tarde muito quente
e da lida de hoje, regar horta e pomar, preparar a terra e plantar duas dúzias
de alfaces e um cento de alhos franceses trazidos da Quinta dos Bonecos lá para
os lados de Montemor, chega o tempo para umas lérias e para umas ”minis” com o
Mestre Marrafa.
Às tantas, conta-me que tem um
dente a “dar-lhe umas fezes”, a
incomodá-lo, e foi informar-se de quanto custaria extraí-lo, ficou “assustado”
com o preço, 35€ no mínimo, 50€ mais provavelmente.
O Mestre Marrafa acha muito e
perguntava-se, perguntava-me, “se
arrancar um dente são 35€ euros quanto não levariam de arrancar uma árvore
grande?”
Sem que me desse tempo a dizer
qualquer coisa, naquele seu jeito, com os olhos pequenos meio cerrados e a
rir-se acrescenta, “andei tantos dias a
arrancar sobreiras e azinheiras já grandes, mais do que uma por dia só com um
enxadão e não ganhava isso por mês”.
Na verdade o tempo muda, muda
muito e nem sempre se entendem todas as mudanças.
Bebemos mais uma cerveja, bem fresquinha,
que o calor está áspero e, espero eu, que o dente do Velho Marrafa não de lhe
dê mais “fezes”.
São assim os dias do Alentejo.
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