É hoje divulgado mais um trabalho
realizado no âmbito do projecto aQeduto, uma parceria entre o Conselho Nacional
de Educação e a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Em análise estão os resultados em
Matemática no estudo PISA de 2012 e os dados recolhidos em entrevistas a
estudantes na mesma altura avaliando a percepção dos alunos relativa ao seu
contributo ou ao dos docentes para o sucesso na aprendizagem, a relação entre
os resultados e algumas das características dos alunos e os trabalhos de casa.
Será interessante conhecer todo o
estudo, a agenda impede-me mais uma vez de estar presente mas do que é
conhecido umas notas breves.
Sem surpresa os alunos,
independentemente dos resultados e das condições económicas tendem a valorizar
o seu papel com contributo para o sucesso e menos os dos docentes.
A generalidade dos estudos sobre
matérias desta natureza mostra também esta evidência. De uma forma geral
valorizamos a nossa responsabilidade pelo sucesso. A questão mais aberta
surgirá noutros termos, ou seja, a quem atribuir a responsabilidade do
insucesso. Colocada a questão nestes termos já surgirão respostas com uma atribuição
causal de natureza externa, ou seja, a responsabilidade pelo insucesso não será
de factores ou actores exteriores.
Na verdade, a atribuição interna
de responsabilidade pelo insucesso é “ameaçadora” para a percepção positiva de
si enquanto a atribuição interna pelo sucesso é protectora dessa percepção de
si próprio.
No que respeita aos dados sobre
dimensões pessoais de natureza mais psicológica parece-me interessante de
sublinhar que, também sem surpresa, os alunos de meios menos carenciados se
percebem como mais capazes de aprender Matemática.
Esta percepção tem um impacto
conhecido na aprendizagem e ilustra mais uma vez o peso das condições familiares
que geram expectativas, motivações e confiança mais elevadas relativamente à
aprendizagem.
No mesmo sentido devem ser
considerados os dados relativos aos trabalhos de casa. Em síntese, os alunos
com melhores resultados tendem a gastar mais tempo em trabalho de casa mas não
conclusiva a relação entre a média de horas de trabalho de casa e resultados
escolares pois os alunos finlandeses são dos menos trabalham em casa e obtêm resultados
positivos no PISA.
Os alunos portugueses estão numa
posição intermédia considerando o número de horas que trabalham em casa, 4h.
Estamos a falar de alunos com 15 anos pelo que no 1º e 2º ciclo encontraríamos,
provavelmente, outros indicadores de carga horária com trabalhos de casa.
No entanto, importa considerar
como várias vezes tenho escrito e é conhecido de muitos trabalhos, incluindo da
OCDE, que a sobrevalorização dos trabalhos de casa como ferramenta de
aprendizagem pode, no caso de alunos de famílias menos escolarizadas, ser um
factor que alimenta assimetrias por incapacidade dos pais em providenciar ajuda
e dificuldade de a “comprar” recorrendo a ajudas externas.
Como se sabe, no sistema
educativo português é particularmente evidente a relação entre os resultados
escolares dos alunos e o nível de escolaridade e condições económicas das
famílias o que deve ser tido em conta no que se espera ou determina na realização
de trabalho escolar em casa.
Globalmente, ficamos com mais uns
dados que nos ajudam a perceber de forma mais nítida os nossos contextos
educativos e o que se passa noutras paragens.
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