segunda-feira, 25 de julho de 2016

DOS RESULTADOS NO PISA E DE OUTRAS VARIÁVEIS

É hoje divulgado mais um trabalho realizado no âmbito do projecto aQeduto, uma parceria entre o Conselho Nacional de Educação e a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Em análise estão os resultados em Matemática no estudo PISA de 2012 e os dados recolhidos em entrevistas a estudantes na mesma altura avaliando a percepção dos alunos relativa ao seu contributo ou ao dos docentes para o sucesso na aprendizagem, a relação entre os resultados e algumas das características dos alunos e os trabalhos de casa.
Será interessante conhecer todo o estudo, a agenda impede-me mais uma vez de estar presente mas do que é conhecido umas notas breves.
Sem surpresa os alunos, independentemente dos resultados e das condições económicas tendem a valorizar o seu papel com contributo para o sucesso e menos os dos docentes.
A generalidade dos estudos sobre matérias desta natureza mostra também esta evidência. De uma forma geral valorizamos a nossa responsabilidade pelo sucesso. A questão mais aberta surgirá noutros termos, ou seja, a quem atribuir a responsabilidade do insucesso. Colocada a questão nestes termos já surgirão respostas com uma atribuição causal de natureza externa, ou seja, a responsabilidade pelo insucesso não será de factores ou actores exteriores.
Na verdade, a atribuição interna de responsabilidade pelo insucesso é “ameaçadora” para a percepção positiva de si enquanto a atribuição interna pelo sucesso é protectora dessa percepção de si próprio.
No que respeita aos dados sobre dimensões pessoais de natureza mais psicológica parece-me interessante de sublinhar que, também sem surpresa, os alunos de meios menos carenciados se percebem como mais capazes de aprender Matemática.
Esta percepção tem um impacto conhecido na aprendizagem e ilustra mais uma vez o peso das condições familiares que geram expectativas, motivações e confiança mais elevadas relativamente à aprendizagem.
No mesmo sentido devem ser considerados os dados relativos aos trabalhos de casa. Em síntese, os alunos com melhores resultados tendem a gastar mais tempo em trabalho de casa mas não conclusiva a relação entre a média de horas de trabalho de casa e resultados escolares pois os alunos finlandeses são dos menos trabalham em casa e obtêm resultados positivos no PISA.
Os alunos portugueses estão numa posição intermédia considerando o número de horas que trabalham em casa, 4h. Estamos a falar de alunos com 15 anos pelo que no 1º e 2º ciclo encontraríamos, provavelmente, outros indicadores de carga horária com trabalhos de casa.
No entanto, importa considerar como várias vezes tenho escrito e é conhecido de muitos trabalhos, incluindo da OCDE, que a sobrevalorização dos trabalhos de casa como ferramenta de aprendizagem pode, no caso de alunos de famílias menos escolarizadas, ser um factor que alimenta assimetrias por incapacidade dos pais em providenciar ajuda e dificuldade de a “comprar” recorrendo a ajudas externas.
Como se sabe, no sistema educativo português é particularmente evidente a relação entre os resultados escolares dos alunos e o nível de escolaridade e condições económicas das famílias o que deve ser tido em conta no que se espera ou determina na realização de trabalho escolar em casa.
Globalmente, ficamos com mais uns dados que nos ajudam a perceber de forma mais nítida os nossos contextos educativos e o que se passa noutras paragens.

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