No Público retoma-se a discussão,
pertinente do meu ponto de vista, em torno do calendário escolar e dos tempos
escolares. A temática vai ao encontro do tema do mês em debate nos blogues que subscreveram o manifesto "Em Defesa da Escola Pública". Algumas notas.
Na peça do jornal está, por exemplo, em análise a
proposta recente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas
Públicas no sentido de que o ano lectivo no ensino básico e secundário se
organize, tal como o ensino superior, em semestres em vez dos actuais três
períodos. A duração global do ano escolar encontra-se dentro da média.
Não tenho uma posição fechada e
fundamentada sobre as eventuais vantagens sendo certo que existem outros
sistemas em que se verifica o modelo semestral.
No entanto, creio que mesmo numa
organização em três períodos a situação que me suscita mais dúvidas é o
desequilíbrio que frequentemente se verifica na duração dos períodos.
Dado que a interrupção da Páscoa
marca o fim do 2º período e é uma data móvel as diferenças podem ser
significativas. Considerando o próximo ano lectivo e de acordo com a Associação,
o primeiro período terá 67 dias de aula, o segundo 54 e o terceiro 29 dias no
caso dos alunos em anos de exame, 9º, 11º e 12º.
Parece claro que esta situação
não é a mais adequada. Dada a tradição talvez não seja fácil, mudar nunca é
fácil, fazer com o que o calendário escolar não esteja colado a festividades
móveis.
No entanto, existem outras
questões a considerar. Num país com as nossas condições climáticas, tal como
genericamente no sul da Europa, e considerando boa parte do nosso parque
escolar, aulas prolongadas até ao Verão seriam algo de, literalmente,
sufocante.
A Confap tem defendido onze meses
de actividade na escola. Sendo a guarda das crianças um problema sério ele não
pode ser resolvido prolongando até ao “infinito”, a infeliz ideia de “Escola a
Tempo Inteiro”, a estadia dos alunos na escola. A “overdose” é pouco saudável.
Vale a pena pensar também na
vantagem de uma pequena pausa lectiva a meio, designadamente, no 1º período. Do
ponto de vista da educação escolar é potencialmente uma vantagem que aliás
muitos países contemplam. Importa no entanto ponderar como gerir a situação dos
alunos.
No que respeita aos tempos
escolares, os alunos portugueses, sobretudo no início da escolaridade tem umas
das mais elevadas cargas horárias. Como bem se sabe, mais horas de trabalho não
significam melhor trabalho e os alunos portugueses já passam um tempo enorme na
escola. Talvez seja de introduzir nesta equação a variável “áreas disciplinares
e currículos”, considerando o número de áreas ou disciplinas, conteúdos, organização,
etc.
Neste contexto, creio que vale a
pena reflectir nestas matérias, ouvindo a participação dos vários actores,
estudando experiências de outros sistemas e, eventualmente, de uma forma
tranquila, oportuna no tempo, sustentada, repensar os tempos da escola.
2 comentários:
Caro José Morgado, permito-me copiar o seu texto para o partilhar na minha página. Espero que não se zangue. Como sempre, acho-o um dos mais sensatos Professores que escreve sobre a Escola e tudo o que nela vive e se passa. Obrigada desde já.
Maria do Carmo Cruz
Olá Colega Avó, disponha.
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