De acordo com o calendário das
consciências passa hoje o Dia Mundial dos Avós.
A avozice é um mundo mágico no
qual entrei há algum tempo com a abençoada chegada do Simão há três anos e do Tomás
há quatro meses, e acho que ainda não consegui acomodar os sentimentos e a
magia de acompanhar de perto, tão de perto quanto possível, o crescimento destes
gaiatos que têm uma geração pelo meio.
Tem sido um divertimento, uma descoberta
permanente e a percepção de um outro sentido para uma vida que já vai comprida
e também, desculpem a confissão, cumprida.
Neste entendimento e como tem
acontecido aqui no Atenta Inquietude a cada 26 de Julho, retomo a minha
proposta no sentido de ser legislado o direito aos avós. Isto quer dizer,
simplesmente, que todos os miúdos deveriam, obrigatoriamente, ter avós e que
todos os velhos deveriam ter netos.
Num tempo em que milhares de
miúdos passam muito tempo sós, mesmo quando, por estranho que pareça, têm
pessoas à beira, e muitos velhos vão morrendo devagar de sozinhismo, a doença
que ataca os que vivem sós, isolados, qualquer partido verdadeiramente
interessado nas pessoas, sentir-se ia obrigado a inscrever tal medida no seu
programa ou, porque não, inscrevê-la nos direitos fundamentais.
Com tantas crianças abandonadas
dentro de casa, institucionalizadas, mergulhadas na escola tempos infindos ou
escondidas em ecrãs, ao mesmo tempo que os velhos estão emprateleirados em
lares ou também abandonados em casa, isolados de tal forma que morrem sem que
ninguém se dê conta, trata-se apenas de os juntar, seria um dois em um. Creio
que os benefícios para miúdos e velhos seriam extraordinários.
Um avô ou uma avó, de preferência
os dois, são bens de primeira necessidade para qualquer miúdo.
Aina a propósito, uma pequenina
história com avô e neto.
Um dia destes, nas minhas
deambulações desportivas, reparo que na direcção em que me deslocava, estavam
duas figuras de aparente baixa estatura que, quase deitados no chão,
espreitavam para o meio das pedras que ladeavam a vereda.
Quando passei por eles, a minha
baixa velocidade de corrida permitiu-me captar algumas frases.
João, ela escondeu-se neste buraco, vamos ver se a topamos.
Pois foi Avô, a lagartixa fugiu para aí. És capaz de a apanhar?
Vou ver se consigo, mas é só para a vermos e depois fica aqui em casa,
nas pedras.
Pois é, é só para a gente ver e depois fica aí. Tinha umas cores mesmo
fixes.
E lá ficaram a tentar apanhar a
lagartixa que devia estar em pânico.
É curioso. Os velhos quando
brincam com os miúdos e os miúdos quando brincam com os velhos, os avós, ficam
parecidos. E felizes. Como eu, o Simão e o Tomás.
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