O MEC define como um dos eixos
centrais da sua política a realização de exames como se os exames, só por
existirem, melhorassem a qualidade do trabalho de alunos e professores.
Tal entendimento transforma as actividades
educativas escolares em actividades de
preparação para exames, contribui para o florescente negócio das explicações e
da venda de cadernos de fichas iguais aos exames, fazendo com que a preparação
para exames seja o tudo da vida educativa de alunos e professores, acentuando as
dificuldades de muitas famílias por impossibilidade de acesso a explicações e à
compra de cadernos de actividades, manuais, livros de fichas, etc.
Simultaneamente promove durante
os últimos anos a saída de um número brutal de docentes que não é explicado,
evidentemente pelas oscilações do número de alunos. Estas diminuição de
docentes com implicações no número de alunos por turma e consequente efeito nas
dificuldades dos professores, dificulta
extraordinariamente a estruturação por parte das escolas de imprescindíveis
dispositivos de apoio ao trabalho de alunos e professores.
Acresce que os créditos de horas
atribuídos às escolas, apesar de alguns ajustamentos, continuam a privilegiar
as que obtêm melhores resultados o que leva a que as escolas com mais
necessidades são, justamente, as que mais dificuldades têm em aceder a horas
suplementares.
Deste cenário resulta agora que a
generosidade e sentido ético dos docentes os leva em algumas escolas a
providenciar sem qualquer contrapartida aulas suplementares aos alunos para se
prepararem para os exames, sempre os exames e nada mais do que os exames.
Importa, naturalmente, registar a intenção e o empenho das escolas e dos professores neste esforço de apoio final aos alunos mas ... há qualquer coisa de muito errado
nisto tudo.
6 comentários:
A verdade é que me disponibilize para dar aulas suplementares aos meus alunos que vão fazer exame de Filosofia.Penso que isso só faz sentido numa disponibilidade aceite pelo professor e não numa obrigatoriedade. De facto nenhum professor é obrigado a fazê-lo e assim deve continuar.
Sem dúvida.
As escolas transformaram-se em Voando sobre um Ninho de Cucos.
As normas de exame decoram todas as paredes e placards das escolas, em versões revistas e melhoradas. Os mais desatentos ainda pensam que as aulas continuam e o que interessa é o "ensino-aprendizagem".
Já vão em 3 ou 4 as reuniões de preparação para exames, vigilâncias e o diabo a sete e mais as normas para os finais de ano, com programas e mais minutas de atas e mais tudo, muito bem feitinho, em TREBUCHET 11, espaçamento 1,5, e tira dali e cola acolá e duplica tudo, triplica, se necessário.....ai a inspeção! Tudo na pen, na dropbox, no ambiente de trabalho, no moodle, no dossiê.....ai as rasuras, ai os números do CC, ai 1 letra que sai fora da margem da folha de exame, ai as assinaturas, ai a inspeção, ai que tens de cá estar 2 horas antes do exame, ai as atas e os PTT e os relatórios modelo X e mais modelo Y e mais o programa que não funciona...
As aulas? Pá, isso agora não interessa para nada.
E os profs, de telemóvel em punho, tiram fotos de toda aquela papelada que decora as paredes da sala de professores e outras em redor, que as paredes da sala dos professores não chegam para aquilo tudo.
Cá fora, os projectos projectados dão 1 ar de sua graça para mostrarem trabalho. Os alunos faltam às aulas para verem uns quantos a venderem qualquer coisa. Por acaso, não há projecto como aquele da criançada a jogar à polícia de choque contra os gangs que a gente viu nas TVs.
E os carolas, no meio disto tudo, dão aulas de compensação aos alunos.
Fazem bem. A mais valia é enorme. Especialmente se, mais uma vez, é trabalho grátis, tipo mecenato. Ao menos que se pudesse pôr no IRS.
Coloquei, vai desculpar-me, o seu comentário no blogue. Acho que se justifica.
Anónimo: Parabéns, excelente comentário. Ele reflete (ou reflecte???) a classe (in)docente na actualidade: uma classe amorfa, subserviente, que se deixa tratar "abaixo de cão", que não questiona, não sugere, não participa... apenas se lamenta que tem de fazer isto, aquilo, mas ninguém toma uma atitude. Todos têm medo de perder o seu tachinho, preferem lamuriar-se, ter o papel de vítimas, coitadinhos e sempre com o papão em cima da cabeça: a FAMOSA INSPECÇÃO (antigamente era a PIDE e todos reclamavam, agora, todos se lamentam e ninguém reclama). Pobre "classe" ...
Na minha escola essas aulas funcionam obrigatoriamente!
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