A precariedade nas relações
laborais quase duplicou na última década. Portugal é o segundo país da Europa,
a seguir à Polónia, com maior nível de contratos a prazo. Por outro lado, as
políticas de emprego em curso sempre insistem na maior flexibilização das
relações laborais e ainda muito recentemente Passos Coelho reforçou a
necessidade de aprofundar o abaixamento dos custos do trabalho.
Neste cenário, os desequilíbrios
fortíssimos entre oferta e procura em diferentes sectores, a natureza da
legislação laboral favorável à precariedade e insensibilidade social e ética de
quem decide, promovem a proletarização do mercado de trabalho mesmo em áreas
especializadas ou mesmo o recurso a uma forma de exploração selvagem com uma
maquilhagem de "estágio" sem qualquer remuneração a não ser a
esperança de vir a merecer um emprego pelo qual se luta abdicando até da
dignidade.
O recurso a formas precárias de
prestação de trabalho mesmo em profissões altamente qualificadas, caso hoje
referido do número insustentável de professores que desempenham funções no
ensino superior privado em regime de “recibo verde” são um obstáculo ao
desenvolvimento e ao investimento para além da insegurança quanto ao futuro e a
um projecto de vida.
Acontece ainda que alguns dos
vencimentos que se conhecem, atingindo também camadas altamente qualificadas,
não são um vencimento, são um subsídio de sobrevivência.
É justamente a luta pela
sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de
desemprego e à entrada no mundo do trabalho, sem margem negocial, altamente
fragilizadas e vulneráveis, que entre o nada e a migalha "escolhem
amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um
emprego no fim de período de um indigno trabalho gratuito ou mal remunerado e
precário.
Como é evidente esta dramática
situação vai de mansinho alargando e numa espécie de tsunami vai esmagando
novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático
é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso,
as pessoas são activos descartáveis.
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