O professor David Rodrigues, estimado companheiro nesta estrada da educação, tem um artigo de opinião no Público onde analisa a problemática do insucesso educativo e das respostas, apoios, que o minimizem. Faz uma abordagem com a qual concordo genericamente, (tenho aqui referido com frequência esta questão), sobre a ineficácia das retenções como
forma de promover sucesso e define um quadro de necessidades de apoios que
minimizem dificuldades de alunos e professores.
Na parte final do artigo David
Rodrigues introduz o papel dos Centros de Recursos para Inclusão neste quadro,
algo que me levanta algumas dúvidas, sobretudo pelo modelo em que assenta. A
este propósito, umas notas.
Como é público e David Rodrigues
refere-o a Direcção-Geral da Educação encomendou ao Centro de Reabilitação
Profissional de Gaia um Relatório “Avaliação das Políticas Públicas – Inclusão
de Alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE): O Caso dos Centros de
Recursos para a Inclusão”.
Na altura da sua divulgação referi,
sem juízos de intenção, que por razões óbvias o estudo deveria ser realizado
por entidades externas ao universo em estudo. O MEC ensinou-nos a ser
cautelosos, por assim dizer.
De acordo com o Relatório e
segundo a imprensa “os recursos humanos, físicos e financeiros afectos ao
modelo de educação inclusiva não serão completamente adequados, afectando a acção
dos CRI e dos próprios agrupamentos de escolas e escolas, bem como o
desenvolvimento e aprendizagens dos alunos com necessidades educativas
especiais”. No entanto, apesar das dificuldades enunciadas, era referida a
avaliação "bastante positiva"
por parte de alunos, encarregados de educação, professores das escolas de
ensino regular e técnicos dos Centros de Recursos para a Inclusão.
Entretanto, o Secretário de
Estado do Ensino Básico e Secundário fazia a apologia do modelo instituído e apesar
de reconhecer a falta de meios e recursos afirma que estão a ser estarem a ser
feitos progressos, "No atual ano
letivo, já reforçámos em cerca de 20% o financiamento da educação especial para
os CRI", o apoio passou de 8,6 milhões de euros para 10,4 milhões.
Afirma ainda a intenção de reforço e alargamento do número e do prazo dos
contratos a estabelecer.
Acontece que, do meu ponto de
vista, um dos problemas da designada educação especial é, justamente, este
modelo que não parece ser questionado na avaliação realizada. O MEC, dentro da
sua visão política desinveste na educação e escola públicas e vai entregando à
iniciativa privada serviços educativos, repito serviços educativos, que no
âmbito da escolaridade obrigatória deveriam ser da responsabilidade e
competência dos serviços educativos públicos.
De facto, tem florescido a
prestação por parte de estruturas privadas de serviços educativos não só dos
Centros de Recursos para a Inclusão como também empresas de prestação de
serviços na área dos apoios ou da psicologia. Registe-se que não é só nesta área, veja-se o caso das Actividades de Enriquecimento Curricular, por exemplo.
Não quero, nem devo, discutir
aqui a natureza específica, quer em termos de adequação, quer de qualidade da
intervenção e empenhamento dos técnicos envolvidos, conheço experiências muito
positivas e experiências verdadeiramente atentatórias contra os direitos dos
alunos a uma educação de qualidade.
A minha questão é o modelo que a
suporta e os recursos necessários. A situação existente assume um modelo
errado, ineficaz, independentemente do esforço e competência dos profissionais
envolvidos. Trata-se, também aqui, de mais uma entrega de serviço público aos
mercados.
Como é que se pode esperar que
alguém de fora da escola, fora da equipa, técnica e docente, fora dos circuitos
e processos de envolvimento, planeamento e intervenção desenvolva um trabalho
consistente, integrado e bem sucedido com os alunos e demais elementos da
escola?
Se se entende que os técnicos
podem ser úteis na escola como suporte às dificuldades de alunos, professores e
pais, em diversas áreas, não substituindo ninguém, mas providenciando
contributos específicos para os processos educativo, então devem fazer parte
das equipas das escolas, base evidentemente necessária ao sucesso da sua
intervenção.
Quero ainda referir que as
estruturas como os designados CRI podem e devem ter um papel importante no
universo da educação, por exemplo na chamada transição para a vida activa no
final e após a escolaridade obrigatória, que deve ser enquadrado pelas escolas
no âmbito da sua autonomia que vai sendo beliscada apesar da retórica do MEC.
Parece-me no entanto que
qualidade e EDUCAÇÃO e o desenvolvimento de princípios de educação inclusiva
não são compatíveis com um modelo que assenta no "outsourcing"
apesar, repito, de algumas boas práticas que se conhecem.
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