Já aqui tenho abordado esta
matéria mas a sua gravidade justifica retomá-la.
De acordo com os últimos dados, um em cada seis
alunos entre o 8º e o 10º ano já se magoou a si próprio, de propósito, nos
últimos 12 meses, sobretudo cortando-se nos braços, nas pernas, na barriga...
Referiram que se sentiam “tristes”, “fartos”, “desiludidos” quando o fizeram.
Este indicador, preocupante como
é evidente, é-o tanto mais quando representa um aumento de quase cinco pontos
percentuais do grupo dos que fazem mal a si próprios considerando o Relatório
de há quatro anos.
É importante sublinhar que foram
envolvidos no estudo 6026 alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos, de Portugal
continental, com idades entre os 10 e os 20 anos (a média de idades é 14 anos).
Na verdade, os comportamentos de
auto-mutilação em adolescentes são mais frequentes e graves do que muitas vezes
pensamos. Alguns estudos internacionais apontam para cerca de 10% da população
em idade escolar com este tipo de comportamento pelo que os dados encontrados
em Portugal são, de facto, preocupantes.
Este quadro é um indicador do
mal-estar que muitos adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não
conseguimos estar suficientemente atentos. Acontecem com alguma frequência
situações de sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas,
bullying por exemplo nas suas diferentes formas, ou relações degradadas em
família que facilitam a instalação de sentimentos de rejeição, ausência de
suporte social, facilitadoras de comportamentos auto-destrutivos.
Começa também a emergir como
causa deste mal estar a dificuldade que algumas crianças e adolescentes sentem em
lidar com situações de insucesso escolar. Estas dificuldades são frequentemente
potenciadas pela pressão das famílias e pelo nível de competição que por vezes
se instala.
O sofrimento e mal-estar induzem
uma espiral de comportamentos em que os adolescentes causam a si próprios
sofrimento que promove mais sofrimento num ciclo insuportável e com níveis de
perplexidade, impotência e sofrimento para as famílias também
extraordinariamente significativos.
Depois das ocorrências torna-se
sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e
adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes,
não damos atenção, seja em casa, ou na escola espaço onde passam boa parte do
seu tempo.
De facto em muitos casos,
designadamente, em comportamentos de auto-mutilação, pode ser possível perceber
sinais e comportamentos indiciadores de mal-estar. Estes sinais não podem, não
devem, ser ignorados ou desvalorizados. É também importante que pais e
professores atentos não hesitem nos pedidos de ajuda ou apoio para lidar com
este tipo de situações.
Muitos pais, diz-me a
experiência, sentem-se de tal forma assustados que inibem um pedido de ajuda
por se sentirem impotentes e perplexos.
O resultado pode ser trágico e
obriga-nos a nós a uma atenção redobrada aos discursos e comportamentos dos
adolescentes.
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