Mais uma vez retomo a questão sempre em aberto sobre o uso
de videojogos, sobretudo por parte de crianças e adolescentes. Tem impacto
positivo? Tem impacto negativo?
Julgo que se trata de uma matéria em que, por estranho que
pareça, todos podem ter razão.
Por um lado e em primeiro lugar porque existem excelentes
videojogos que proporcionam aos utilizadores a mobilização de competências de
natureza variada e importante.
Por outro lado, porque sendo certo que em muitas crianças,
adolescentes ou adultos, que apresentam comportamentos de socialmente
desajustados, designadamente violência, esses comportamentos aparecem associados
ao consumo significativo de videojogos violentos mas também é verdade que nem
todos os miúdos adolescentes ou jovens que os consomem desenvolvem
comportamentos de violência, daí a inexistência de uma relação de causa-efeito.
A questão, do meu ponto de vista, não é sobre se os
videojogos fazem mal ou se fazem bem, é sobre o tempo que ocupam na vida dos
miúdos e a qualidade e os conteúdos disponíveis considerando a idade dos utilizadores como é o caso extremo deste videojogo divulgado em Espanha cujo objectivo é promover formas de agredir professores. Existem conteúdos que o pudor ético e valores morais básicos deveriam inibir.
Muitos de nós, especialistas ou não, inquietamo-nos com o
tempo excessivo que muitas crianças e adolescentes passam sós, ou com outros
"sós" do outro lado, agarradas a um ecrã, numa espécie de
teledependência pouco positiva. Esta preocupação não tem nada a ver com um entendimento
definitivo de que os videojogos fazem mal. Existem, como disse, excelentes videojogos
que, naturalmente, serão úteis e positivos na vida dos miúdos.
Uma outra questão é o espaço que estes produtos ocupam na
vida dos miúdos. Segundo alguns estudos, perto de 50% das crianças até aos 15
anos terão pc, tablet ou televisor no quarto, além do telemóvel e também se
conhece o tempo imenso que muitas crianças e adolescentes dedicam aos ecrãs.
Acontece que durante o período de sono e sem regulação familiar muitas crianças
e adolescentes estarão diante de um ecrã, pc, tv ou telemóvel. Com é óbvio,
este comportamento não pode deixar de implicar consequências nos comportamentos
durante o dia, sonolência e distracção, ansiedade e, naturalmente, o risco de
falta de rendimento escolar num quadro geral de pior qualidade de vida.
Comer faz bem às crianças, mas comer excessivamente e
produtos de má qualidade, provoca sérios problemas de saúde. Que se eduque o
consumo, sem se diabolizar ou exaltar disparatadamente o produto.
Estas matérias, a presença das novas tecnologias na vida dos
mais novos, são problemas novos para muitos pais, eles próprios com níveis
baixos de alfabetização informática. Considerando as implicações sérias na vida
diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos pais para
que a utilização imprescindível seja regulada e protectora da qualidade de vida
das crianças e adolescentes.
Importa ainda que estas matérias possam estar integradas nas
abordagens escolares e recordo que, lamentavelmente, a formação cívica
desapareceu dos conteúdos curriculares obrigatórios.
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