Recordando Camões, o mundo é
composto de mudança, tomando sempre novas qualidades, umas mais simpáticas que
outras, deve dizer-se.
Segundo o Relatório da
responsabilidade do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência relativo
a 2014, está aumentar o grau de pureza e a potência das drogas ilícitas com
maior nível de consumo. Os riscos para os consumidores são enormes potenciando,
por exemplo, o acréscimo de situações de overdose.
Continua também a aumentar a
introdução de drogas sintéticas estando identificados cerca de 130 produtos.
Por outro lado, é ainda de
salientar a tendência crescente, como o Relatório agora conhecido evidencia, da
utilização da net e das redes sociais como suporte à venda de drogas. Nada de
surpreendente, poderíamos mesmo dizer, sinais dos tempos. Se as redes sociais
podem assumir papéis significativos em movimentos sociais e políticos, porque
não no tráfico de droga, uma das mais lucrativas actividades dos nossos dias.
Este cenário, não só pelas suas
consequências, mas pela “facilidade” de funcionamento e da dificuldade do
combate, necessita de uma política séria de prevenção e tratamento para além do
combate ao tráfico que possa, tanto quanto possível, contar com os recursos
adequados, mesmo em cenários de contenção, como recorrentemente afirma João
Goulão, presidente do Observatório.
A questão preocupante e que tem
sido motivo regular de alerta por parte de especialistas, é que os cortes e
ajustamentos nos recursos humanos e materiais disponíveis correm o risco de
criar sérios constrangimentos na prevenção, tratamento do consumo e do combate
ao tráfico.
Como muitas vezes tenho escrito,
existem áreas de problemas que afectam as comunidades em que os custos da
intervenção são claramente sustentados pelas consequências da não intervenção,
ou seja, não intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a
intervenção correcta em tempo oportuno. A toxicodependência e o consumo do
álcool são exemplos dessas áreas.
Quadros de dependência não
tratados desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções,
numa espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais
dependência. Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o
tráfico, reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe
desempenho profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica
por sua vez custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Costumo dizer em muitas ocasiões
que se cuidar é caro, façam as contas aos resultados do descuidar.
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