Está explicado. Muita gente, na
qual me incluo, tem colocado sérias reservas à política de deslocalização dos
miúdos, fechamento de escolas e constituição de mega-agrupamentos.
Percebe-se agora a visão de
sucessivas equipas da 5 de Outubro agora corporizada no projecto hoje divulgado. Aumenta-se a distância entre a habitação dos
alunos e a escola, pôem-se os alunos a fazer o trajecto de bicicleta e, assim, combate-se o
grave problema da obesidade infantil. A capacidade visionária do MEC é uma
fonte inesgotável de perplexidade. Já podemos antecipar as múltiplas ciclovias das
nossas cidades vilas e as cuidadas, largas, bem iluminadas e seguras bermas das
nossas estradas inundadas de bicicletas com crianças e adolescentes a caminho
das escolas. O que se poupa em combustível para as famílias, em custos dos
transportes escolares para as autarquias e, mais importante claro, os
benefícios para a saúde dos mais novos.
Também é bonito imaginar os amplos espaços de muitas das nossas escolas, sem a enchente própria da sobrelotação, a serem ocupado por alegres grupos de crianças e adolescentes envolvidos em saudáveis jogos tradicionais com a orientação colaboração dos seus mestres e dos senhores funcionários. Que ideia mais interessante!
É verdade que temos um problema
grave de excesso de peso em crianças e adolescentes.
Segundo um estudo publicado na
Lancet, creio que de 2013, em Portugal 28,7% dos rapazes, 27,1% das raparigas,
63,8% dos homens e 54,6% das mulheres evidencia excesso de peso, enquanto a
obesidade afecta 8,9% dos rapazes, 10,6% das raparigas, 20,9% dos homens e
23,4% das mulheres. Estes indicadores vão na linha dos que a OMS divulgou há
algum tempo, sobretudo no que respeita à população mais nova.
Na Europa, mais de 27% das crianças
com 13 anos e 33% com 11 tem excesso de peso. Portugal é um dos países com
indicadores mais inquietantes, 32% das crianças com 11 anos tem peso a mais.
Nada de novo, recordo um estudo,
“EPACI Portugal 2012 – Estudo do Padrão Alimentar e de Crescimento na
Infância”, segundo o qual, 31.4% das crianças portuguesas entre os 12 e os 36
meses apresenta excesso de peso e 6.5% situações de obesidade. Os dados são
preocupantes mas não surpreendem indo no mesmo sentido de dados envolvendo
outras idades.
A Direcção-Geral de Saúde tem
vindo a recomendar às escolas que alimentos hipercalóricos, como doces ou
bolos, não sejam expostos, devendo ficar visíveis aos olhos dos alunos os
alimentos considerados mais saudáveis em como estão em curso medidas no sentido
de baixar a publicidade a alimentos e bebidas com maior carga calórica.
Recordo ainda que um estudo
divulgado em 2014, creio, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto,
encontrou 17% de rapazes e 26% de raparigas de quatro anos, sublinho, quatro
anos, com excesso de peso e obesidade e níveis de colesterol elevados, um
cenário verdadeiramente preocupante e de graves consequências futuras.
No entanto, é bom não esquecer, o
Ministro Nuno Crato que agora quer os alunos a deslocarem-se de bicicleta e a
realizar actividades físicas aos intervalos diminuiu em 2012 a carga horária de
Educação Física no 3º ciclo e Secundário e desvalorizou a disciplina
retirando-a do cálculo da média final. Estranho? Não, a normalidade crática.
No entanto e apesar desta deriva,
a verdade é que enfrentamos um problema grave com consequências em termos de
saúde e qualidade de vida em termos individuais e sociais. Assim, e como já
tenho referido, justifica-se a definição de programas de prevenção, educação e
remediação que o combatam.
Mas talvez tenhamos de o fazer de
outras formas. Deixem lá ver.
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