De acordo com um estudo divulgado
pela Ordem dos Médicos realizado por 31 médicos envolvendo mais de 800 médicos
em formação no internato de especialidade de 45 especialidades diferentes,
distribuídos por unidades de todo o país, cerca de 65% admitem emigrar depois
da formação.
O número é preocupantemente significativo
mas, lamentavelmente, não surpreende.
Recordo um estudo recente encomendado
pela Presidência da República e realizado por uma equipa do Instituto de
Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Emprego, Mobilidade, Política e
Lazer: situações e atitudes dos jovens portugueses numa perspectiva comparada, em
que cerce cerca de 70% dos jovens entre os 15 e 24 anos inquiridos encara a
hipótese de emigrar. Estes jovens colocados perante a afirmação “daqui a dois
anos, a crise terá terminado e a situação do emprego em Portugal será melhor do
que hoje”, 60,8% entre os 15 e os 24 discordou e 66,5% entre os 25 e os 34
também não concordou.
Acresce que os dados também
confirmavam que a proporção de jovens sem trabalho há mais de um ano é “muito
significativa”. Entre os inquiridos, dos 15 aos 24 anos, 38,2% estão sem
emprego há mais de um ano; entre os 25 e os 34 anos a percentagem chega aos
52,8%.
Este conjunto de dados parece
profundamente elucidativo e inquietante reflectindo a falta de confiança num
futuro por cá, o insustentável nível de desemprego jovem e, simultaneamente, a
falta de interesse e motivação pela acção política, justamente, a forma de em
democracia promover mudanças.
Talvez se recordem de há poucos
dias o geniozinho Poiares Maduro, Ministro-adjunto, e há algum tempo a Ministra
das Finanças terem irresponsavelmente desvalorizado o fenómeno da emigração
jovem.
A maioria dos jovens que parte,
conforme os estudos apontam, não o faz porque quer “fazer opções lá fora” como
afirmou Maria Luís Albuquerque, partem porque não têm opções cá dentro e este
êxodo não pode ser “relativizado” ou desvalorizado, é um drama para o país e um
drama para muitas famílias.
Na verdade, a emigração parece
estar a constituir-se como via quase exclusiva para aceder a um futuro onde
caiba um projecto de vida positivo e viável, algo que por cá não é fácil de
definir. Aliás, vários outros inquéritos a estudantes universitários mostram
como muitos admitem emigrar em busca de melhores condições de realização
pessoal e profissional apesar de muitos afirmarem que pretendem voltar.
Somos um país de emigrantes de há
séculos pelo que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar.
No entanto, creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a
emigração se realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a
emigração realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens
não tem condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de
qualquer coisa. Este vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem
está começar, se sente qualifica e com o desejo de construção de um projecto de
vida viável e bem sucedido.
Por outro lado e como é
reconhecido, de uma forma geral, o ensino superior e a investigação em Portugal
têm uma qualidade que internamente nem sempre é reconhecida e que se evidencia
na frequência com que em diversas áreas se assiste à contratação de jovens que
estudaram em Portugal para trabalho em empresas ou em investigação em
diferentes países, onde se incluem, por exemplo, a Inglaterra, a Alemanha ou os
Estados Unidos que não são propriamente países com baixo nível de
desenvolvimento científico. Daí perceber-se as intenções dos médicos em
formação.
Neste quadro, torna-se ainda mais
preocupante a partida para o estrangeiro de muitos milhares de jovens, com
formação superior de elevada qualidade, porque em Portugal um projecto de vida
viável e com sucesso é uma miragem. Este êxodo tem, obviamente, com profundas
consequências para um país como Portugal.
Em primeiro lugar, porque sendo
um país com uma fortíssima necessidade de qualificação nas empresas, vê partir
os que mais preparados estariam o que terá, evidentemente, um impacto económico
significativo. Aliás e curiosamente, este entendimento é recorrentemente
afirmado por um Governo com forte responsabilidade pela emigração forçada de
milhares de jovens com formação superior, designadamente trabalhadores na área
científica, que não vislumbram o futuro em Portugal.
Em segundo lugar, porque importa
não esquecer que os custos da formação dos jovens qualificados em Portugal são
suportados por todos os nós no caso do ensino público, e das famílias ou dos
próprios na formação em estabelecimentos privados embora, considerando também o
ensino público, os custos para as famílias na frequência de ensino superior em
Portugal seja dos mais altos na Europa.
Isto significa que Portugal, o estado, 400 000 euros por cada médico, e as famílias, suportam os custos da formação e os outros países aproveitam essa qualificação uma vez que os jovens não conseguem desenvolver o seu trabalho em Portugal.
Isto significa que Portugal, o estado, 400 000 euros por cada médico, e as famílias, suportam os custos da formação e os outros países aproveitam essa qualificação uma vez que os jovens não conseguem desenvolver o seu trabalho em Portugal.
E o futuro? O futuro não mora
aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário