sexta-feira, 19 de junho de 2015

A PERCENTAGEM QUE A SONDAGEM NUNCA MOSTRA

Nos tempos que vivemos e em particular com a proximidade de actos eleitorais ou para “medir o pulso” ao eleitorado, somos frequentemente informados de resultados de sondagens ou estudos de opinião.
A discussão sobre a fiabilidade, a validade e a consequente interpretação dos resultados, sobretudo em matéria de política, é eterna, tal como a guerra de números em dias de greve.
Os técnicos responsáveis garantem o carácter científico do seu trabalho e, portanto, a sua credibilidade.
As figuras ou entidades que aparecem mais beneficiadas não deixam, claro, de lhes emprestar crédito e assumir que elas espelham a opinião ajustada do universo inquirido. Finalmente, as figuras ou entidades cujos indicadores são menos favoráveis entendem por bem duvidar, claro, dos resultados quer ao nível do “rigor científico” quer, versão mais pesada, de alguma manipulação intencional dos resultados. Sempre assim foi, sempre assim será, creio por isso que resta aquela velha máxima, as sondagens valem o que valem.
Não me refiro aos resultados, deixo isso para os especialistas, os politólogos, os opinadores e, naturalmente, para os envolvidos até porque se vai verificando alguma volatilidade de intenções e apreciações ao sabor da espuma dos dias. Ainda estamos longe do tempo da decisão
A minha questão no que respeita às sondagens, remete para uma ideia que há já bastante tempo aqui referi. Sabendo e reconhecendo o peso que a opinião publicada tem na construção da opinião pública, a opinião com voz, o universo que é normalmente inquirido, creio que é de estar muito e cada vez mais atento ao que “NÃO DIZEM” algumas franjas sociais que habitam a periferia da vivência, a sobrevivência, os que normalmente não são inquiridos.
A este respeito, cito Sam the Kid que, num fenómeno interessante, integra uma área do hip hop que parece estar a ocupar o espaço do que há algumas décadas chamávamos música de intervenção e que sem raízes musicais portuguesas (essa a grande diferença) assume um discurso lúcido, atento, crítico e, por isso, menos integrado.
"Eu sou a percentagem que a sondagem nunca mostra
Eu sou a mente exausta da miragem mal composta
Eu sou a indiferença e a insatisfação
Eu sou a anti-comparência, eu sou a abstenção"
De facto, cada vez mais me parece que a voz da percentagem que a sondagem nunca mostra deve ser escutada com enorme atenção.

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