domingo, 9 de fevereiro de 2014

PROLETARIZAÇÃO E EMPOBRECIMENTO


Num cenário com níveis de desemprego ainda devastadores, atingindo todas as camadas etárias mas sobretudo os mais novos e os mais velhos, com desequilíbrios fortíssimos entre oferta e procura em diferentes sectores, uma legislação laboral progressivamente favorável à precariedade e insensibilidade social e ética de quem decide, não é estranha a proletarização do mercado de trabalho mesmo em áreas especializadas ou mesmo o recurso a uma forma de exploração selvagem com uma maquilhagem de "estágio" sem qualquer remuneração a não ser a esperança de vir a merecer um emprego pelo qual se luta abdicando até da dignidade. Lembran-se certamente das intervenções de António Borges e outros falcões defendendo o abaixamento dos salários e os discursos que nos mostravam o empobrecimento como a salvação. Estamos a caminho.
Na verdade, boa parte dos vencimentos em empregos mais recentes, mesmo com gente qualificada, não são um vencimento, são um subsídio de sobrevivência. É justamente a luta pela sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de desemprego e à entrada no mundo do trabalho sem margem negocial, altamente fragilizada e vulnerável, que entre o nada e a migalha "escolhe amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um emprego no fim de um período de indigno trabalho gratuito. Como é evidente esta dramática situação vai-se alargando de mansinho e numa espécie de tsunami vai esmagando novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso, as pessoas são activos descartáveis.

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