Na partidocracia em que vivemos existem uns actos litúrgicos, os congressos partidários, que estranhamente, ou não, merecem uma cobertura mediática que, do meu ponto de vista não se justifica na partidocracia em que nos atolámos.
Este fim de semana está a decorrer o Congresso do PSD e a imprensa está cheia de referências ao que por lá vai acontecendo. Como é habitual, do que por lá vai acontecendo, tal como nos Congressos dos outros partidos, pouca coisa se torna verdadeiramente importante para o chamado país real até porque boa parte do que lá é dito é quase que exclusivamente para consumo interno, ou repete a retórica diária presente nos discursos, como os apelos a consensos que se sabem impossíveis por não servirem aos partidos embora, eventualmente, pudessem ser úteis às pessoas.
Na verdade, os Congressos destinam-se a definir ou redefinir lideranças que previamente estão estruturadas, a realinhar e reforçar os apoios e a organização do aparelho, ou seja, a gestão das fidelidades e dos jogos de poder e de influência.
Os Congressos partidários servem também para dar "tempo de antena" a alguns "barões"do partido, os que estão na mó de cima, que mostram a sua influência e peso, a antuiguidade é um posto como diz o povo. A alguns "barões" na mó de baixo enviam-se alguns recados e, naturalmente surgem os imprescindíveis apelos à unidade em torno do projecto, da estratégia, isto é, do líder em funções. Quando mudar logo se vê e repete-se a liturgia.
Os Congressos partidários cumprem ainda uma outra função, disponibilizar uns minutos de palco, de fama, aos congressistas anónimos vindos do aparelho partidario mais afastado do poder central mas mais próximo do poder local, do país profundo, e que, quase sempre, fora da cobertura mediática, produzem inflamadas intervenções cheias de amor partidário que os poucos presentes, estas intervenções são habitualmente agendadas para horas "mortas", têm a generosidade de aplaudir.
Quando acabar o Congresso do PSD voltamos aos problemas das pessoas, o mundo não parou, apesar da afirmação bizarra de que o país está melhor embora as pessoas não o estejam, e aguardamos o Congresso do próximo partido para repetir a liturgia.
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