Um estudo realizado na
Universidade do Minho sugere que as crianças portuguesas estando mais
conscientes dos riscos que se encontram na utilização da net, ainda estão
razoavelmente expostas a esses riscos, designadamente, o do excesso de tempo
que lhe dedicam. Dada a actualidade da
questão e o espaço que as novas tecnologias ocupam na vida dos miúdos, retomo
algumas notas.
Segundo dados do projecto europeu
EuKids Online divulgados em 2013, o uso continuado da Internet repercute-se em
45% das crianças portuguesas com um dos seguintes sintomas: não dormir, não
comer, falhar nos trabalhos de casa, deixar de socializar, tentar passar menos
tempo online. Em termos europeus apenas a Estónia tem um número superior, 49%.
17 % dos inquiridos revelaram a presença de dois sinais, ter deixado de comer
ou dormir para estar ao computador.
Já tenho abordado estas questões a
propósito das implicações do uso excessivo das novas tecnologias no
desenvolvimento de crianças e adolescentes, designadamente nos hábitos e saúde
do sono.
Um estudo recente realizado nos
EUA acompanhando durante seis anos 11 000 crianças encontrou fortes indícios de
relação entre perturbações do sono e o desenvolvimento de problemas de natureza
diferenciada no comportamento e funcionamento das crianças.
Esta questão, os padrões e
hábitos de sono das crianças, é algo de importante que nem sempre parece
devidamente considerada. Também entre nós, vários estudos sobre os hábitos e
padrões de sono em crianças e adolescentes têm sido desenvolvidos, segundo os
quais mais de metade dos adolescentes inquiridos apresentam quadros de
sonolência excessiva e evidenciam hábitos de sono pouco saudáveis. Esta
constatação vai no mesmo sentido de outros trabalhos com crianças mais novas. A
falta de qualidade do sono e do tempo necessário acaba, naturalmente, por
comprometer a qualidade de vida das crianças e adolescentes.
Várias investigações sugerem que
parte das alterações verificadas nos padrões e hábito relativos ao sono remetem
para questões ligadas a stress familiar e sublinham o aumento das queixas
relativas a sonolência e alterações comportamentais durante o dia.
Acresce, como os dados do EuKids
Online evidenciam, um conjunto de outros riscos decorrentes da utilização menos
regulada das novas tecnologias o que solicita alguma reflexão sobre estilos e
hábitos de vida. Um dos problemas emergentes e preocupantes neste
universo é o chamado cyberbullying a que já aqui me tenho abordado.
Segundo alguns estudos, perto de 50% das crianças até aos 15 anos terão
computador ou televisor no quarto, além do telemóvel.
Acontece que durante o período de
sono e sem regulação familiar muitas crianças e adolescentes estarão diante de
um ecrã, pc, tv ou telemóvel. Com é óbvio, este comportamento não pode deixar
de implicar consequências nos comportamentos durante o dia, sonolência e
distracção, ansiedade e, naturalmente, o risco de falta de rendimento escolar
num quadro geral de pior qualidade de vida.
Creio que, com alguma frequência,
os comportamentos dos miúdos, sobretudo nos mais novos, que são de uma forma
aligeirada remetidos para o saco sem fundo da hiperactividade e problemas de
atenção, estarão associados aos seus hábitos e padrões de sono como, aliás, os
estudos parecem sugerir.
Estas matérias, a presença das
novas tecnologias na vida dos miúdos, são problemas novos para muitos pais,
eles próprios com níveis baixos de alfabetização informática. Considerando as
implicações sérias na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e
ajuda destinada aos pais para que a utilização imprescindível e útil seja
regulada e protectora da qualidade de vida das crianças e adolescentes.
A experiência mostra-me que
muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou orientação nestas
matérias.
2 comentários:
Imediatamente antes de visitar o blogue, hoje, estive a ler o artigo "Neknominate: Nova moda na Net faz mais um morto em Inglaterra" [http://visao.sapo.pt/neknominate-nova-moda-na-net-faz-mais-um-morto-em-inglaterra=f768875].
Continuo a achar extremamente preocupante o uso que os jovens fazem/podem fazer da Internet, agora cada vez mais no secretismo para mostrarem conhecimentos e maturidade, como é referido na notícia do Público, considerando ainda imprevisíveis os desafios para os quais a realidade virtual pode persuadi-los.
O caso retratado nesta nova moda de "Neknominate" é apenas um dos exemplos dos muitos perigos que correm, mesmo quando se mostram mais conhecedores do ciber-crime (com especial relevo para as questões que envolvem a sexualidade), podendo ser muito vulneráveis a estímulos que julgam auto-reguláveis e mais individualistas. A frase dita por esta vítima em Inglaterra: "Eu quero superar as pessoas, quero fazer algo que ninguém jamais tenha feito" pode povoar o imaginário de qualquer jovem, tendo eu particularmente receio dos mais tímidos, dos que, aparentemente, se pressuporiam de todo arredados destes assédios. Como professora, não perco nenhuma destas oportunidades para abordar estes assuntos nas minhas aulas, muitas vezes projectando, analisando e debatendo as notícias com eles, na esperança de desmistificar esses pseudo feitos gloriosos, de os confrontar com o que pode acontecer a qualquer incauto e de ir sentindo o pulso daqueles espíritos que tenho na frente. São momentos muito interessantes e, sobretudo, proveitosos, que até podem culminar na crítica a uma notícia mal construída, apesar de publicada num jornal de renome, ou na referência aos verdadeiros feitos gloriosos dos portugueses e àqueles "que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando", para reencaminhar para a minha aula de Português. Não tenho o aval do programa nem das metas curriculares, mas cada vez me sinto mais na obrigação de preencher o vazio que existe na formação pessoal e integral dos jovens/alunos, quer na escola, quer na família (em muitas famílias, pelo menos). Actualmente, a escola nem o conhecimento formal das novas tecnologias de informação e comunicação proporciona convenientemente aos alunos, tendo as disciplinas/horas da área de informática sido praticamente erradicadas dos currículos do Ensino Básico. Os alunos chegam ao 9.º ano sem saber tão pouco justificar um texto num ficheiro de Word, quanto mais reflectir sobre o uso da Internet!
Eu quando era miúdo não tinha Internet, foi há muitos anos, tinha os meus medos terrores insónias pesadelos. Não tinha psicólogos, nem sequer amigos virtuais nem reais que me ajudassem...veja-se também os miúdos do filme "Era uma vez na América". Hoje agradeço não terem existido porque criei as minhas resistências e nesse tempo o estado não gastava o que não tinha. Só gostaria de propor outra perspetiva sobre o assunto: pense-se no conforto para a polícia em combater o crime virtual, na sua secretária num computador que nem sequer tem o símbolo do arroba no teclado. pense-se no oportunismo "predatório" de todos os que beneficiam com análises perfunctórias e apressadas e opinam e pretendem fazer ciência sobre uma "realidade" tão mal conhecida, pense-se em todos aqueles que são metidos no mesmo saco e por isso são discriminados em função da idade, porque são mais velhos e estranhos, nos que vivem na solidão, nos que estão doentes na cama de um hospital e precisam de uma palavra de conforto...pense-se no sensacionalismo dos jornais sobre cidadãos que de facto nada fazem de mal diante de um computador para além de um simples jogo de palavras. Talvez o problema esteja nos pais que não dão brinquedos reais, da Escola que não cria atividades estimulantes que preencham o imaginário dos alunos. Eu também sou professor e detesto este espírito de "ave de rapina" dos que julgam que sabem tudo e até vão dar lições às escolas, sejam polícias ou quem quer que seja. A Internet não faz pior do que o mundo real. Quantas cabeças partidas e verdadeiros ataques de predadores não são evitados com a ligação à rede social. É um bom exercício de simulação, de arriscar de experimentar e de falar...o pior é criar medos na cabeça das crianças com a ideia do papão, adamastor e monstros no fim do mundo numa atitude bufa e pidesca. Neste aspeto estamos com uma tecnologia moderna e uma mentalidade medieval, inquisitória, de pecado, de medo e de perseguição. Estamos abrir as portas a uma nova idade média em que , um dia será crime saber o que o outro está a pensar. Com crente que sou acredito que Deus está na rede, mas não o Deus dos Homens, os moralistas de tudo e de nada, os arrivistas que opinam sobre tudo e sobre nada. Fácil e económico é falar sobre o virtual usando o mundo virtual. Mais difícil é perseguir aquele ladrão de bicicletas, o corrupto político que enriquece ilicitamente, o criminoso que injuria, difama e calunia, em todos os que lesam o património. A Internet tem um valor relativo, é virtual, é um jogo, não faz apelo aos cinco sentidos e isso para mim basta, não é real e por isso não se lhe podem opor armas e instrumentos da realidade, o que é injusto. Haverá um código penal virtual? mesmo estas palavras até pode ter sido o Obama a escrever.
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