quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

DEFINITIVAMENTE, ESTUDAR COMPENSA

Alguma imprensa de hoje retoma a dramática questão do desemprego altíssimo entre os jovens licenciados, acentuando-se o desemprego de longa duração. Segundo o INE, existem dos 146,5 mil licenciados desempregados, mais de 81 mil estão sem trabalho há mais de um ano. A situação não é mais grave porque como é sabido muitos milhares de jovens têm partido à procura de um futuro que por cá não vislumbram.
No entanto, temo que, como é habitual, estes números venham alimentar uma ideia perversa e errada, a do "país de doutores" que, muitas vezes com o auxílio de uma imprensa preguiçosa e negligente, se foi instalando a propósito do número de jovens licenciados no desemprego e da conclusão de que “não vale a pena estudar”, um verdadeiro tiro no pé e que não corresponde de todo à verdade. Como exemplo disto mesmo, o JN acompanha esta notícia com uma fotografia assim legendada, "excesso de qualificações é problema", algo de inaceitável, a qualificação nunca, mas nunca, pode ser problema. Algumas notas.
Em primeiro lugar, os jovens licenciados não estão no desemprego por serem licenciados, estão no desemprego porque temos um mercado pouco desenvolvido e ainda insuficientemente exigente de mão-de-obra qualificada e muitos estão no desemprego porque, por desresponsabilização da tutela, a oferta de formação do ensino superior é completamente enviesada distorcendo o equilíbrio entre a oferta e a procura.
Por outro lado é importante recordar que segundo o Relatório da OCDE, "Education at a Glance 2012", já aqui citado, a diferença salarial de jovens com licenciatura para jovens com formação a nível do secundário, é de 69 % o que é um bom indicador para o impacto da qualificação sendo Portugal um dos países em que mais compensa adquirir formação e qualificação.
Neste cenário e como sempre afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta estudar" não colhe e não tem sustentação, sendo um autêntico tiro no pé de uma sociedade pouco qualificada como a nossa.
Não esqueço o altíssimo e inaceitável nível de desemprego entre os jovens, em particular entre os jovens com qualificação superior, mas esta questão decorre do baixo nível de desenvolvimento do nosso mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais e de erradas políticas de emprego, não da sua qualificação.
Na verdade, uma das ferramentas mais sólidas de promoção da mobilidade social nas últimas décadas, na generalidade das sociedades, é, justamente, a educação, ou seja, a qualificação académica e profissional são entendidas como ferramentas imprescindíveis de progressão social. Lembro-me a frequência com que os meus pais, um serralheiro e uma costureira, me incentivavam "estuda que vais ser alguém que nós não fomos". Tal entendimento é adequado, importa sublinhar, mesmo num tempo em que os jovens com qualificação superior têm uma taxa de desemprego superior a 35%. Com base em vários indicadores é muito claro que estudar compensa. É certo que sempre existem uns "alpinistas sociais" que tratam muito bem da sua mobilidade social sem grande esforço de qualificação escolar ou profissional.
No entanto, conseguir níveis de qualificação mais elevados compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível superior compensa ainda mais.

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