Alguma imprensa de hoje retoma a dramática questão do
desemprego altíssimo entre os jovens licenciados, acentuando-se o desemprego de
longa duração. Segundo o INE, existem dos 146,5 mil licenciados desempregados,
mais de 81 mil estão sem trabalho há mais de um ano. A situação não é mais
grave porque como é sabido muitos milhares de jovens têm partido à procura de
um futuro que por cá não vislumbram.
No entanto, temo que, como é habitual, estes números venham
alimentar uma ideia perversa e errada, a do "país de doutores" que,
muitas vezes com o auxílio de uma imprensa preguiçosa e negligente, se foi
instalando a propósito do número de jovens licenciados no desemprego e da
conclusão de que “não vale a pena estudar”, um verdadeiro tiro no pé e que não
corresponde de todo à verdade. Como exemplo disto mesmo, o JN acompanha esta notícia
com uma fotografia assim legendada, "excesso de qualificações é problema", algo de inaceitável, a qualificação nunca, mas nunca, pode ser problema. Algumas notas.
Em primeiro lugar, os jovens licenciados não estão no
desemprego por serem licenciados, estão no desemprego porque temos um mercado
pouco desenvolvido e ainda insuficientemente exigente de mão-de-obra
qualificada e muitos estão no desemprego porque, por desresponsabilização da
tutela, a oferta de formação do ensino superior é completamente enviesada
distorcendo o equilíbrio entre a oferta e a procura.
Por outro lado é importante recordar que segundo o Relatório
da OCDE, "Education at a Glance 2012", já aqui citado, a diferença
salarial de jovens com licenciatura para jovens com formação a nível do
secundário, é de 69 % o que é um bom indicador para o impacto da qualificação
sendo Portugal um dos países em que mais compensa adquirir formação e
qualificação.
Neste cenário e como sempre afirmo, o discurso muitas vezes
produzido no sentido de que "não adianta estudar" não colhe e não tem
sustentação, sendo um autêntico tiro no pé de uma sociedade pouco qualificada
como a nossa.
Não esqueço o altíssimo e inaceitável nível de desemprego
entre os jovens, em particular entre os jovens com qualificação superior, mas
esta questão decorre do baixo nível de desenvolvimento do nosso mercado de
trabalho, de circunstâncias conjunturais e de erradas políticas de emprego, não
da sua qualificação.
Na verdade, uma das ferramentas mais sólidas de promoção da
mobilidade social nas últimas décadas, na generalidade das sociedades, é,
justamente, a educação, ou seja, a qualificação académica e profissional são
entendidas como ferramentas imprescindíveis de progressão social. Lembro-me a frequência
com que os meus pais, um serralheiro e uma costureira, me incentivavam
"estuda que vais ser alguém que nós não fomos". Tal entendimento é
adequado, importa sublinhar, mesmo num tempo em que os jovens com qualificação
superior têm uma taxa de desemprego superior a 35%. Com base em vários
indicadores é muito claro que estudar compensa. É certo que sempre existem uns
"alpinistas sociais" que tratam muito bem da sua mobilidade social sem
grande esforço de qualificação escolar ou profissional.
No entanto, conseguir níveis de qualificação mais elevados
compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível
superior compensa ainda mais.
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