Era uma vez um Jovem. Não era um jovem como os outros. Tinha, diziam, uma deficiência mental. O Jovem em todo o tempo que andou na escola nunca aprendeu a ler, ou nunca lhe ensinaram, ou ainda, nunca terá perdido o medo de aprender. Talvez até seja melhor aceitar que tem uma deficiência pois, como toda a gente sabe, ou acha que sabe, ou acredita, os deficientes não aprendem a ler.
O Jovem gostava muito de fazer bonecos com material que encontrava como cartão e embalagens de plástico. E fazia coisas bem giras, eu vi algumas, mas o que ele adorava mesmo era estar com os miúdos de um ATL a ensinar-lhes a fazer os seus bonecos. Aí era um Professor.
Um dia o Jovem ia a passear com uma Professora e quando passavam ao pé de uma biblioteca o Jovem disse que às vezes ia lá mas não sabia ler. “Vês as ilustrações dos livros”, comentou a Professora.
“Professora, eu não sei ler mas sei imaginar”, disse o Jovem que fazia bonecos espantosos, ensinava os pequenos e não sabia ler.
3 comentários:
Bem bonito este texto e bem real!
abraço e boa semana
Há quase 30 anos tive um aluno cego (de nascença). Acompanhava as aulas com normalidade, escrevendo na sua máquina de "braille" que uma técnica traduzia para mim e vice-versa. Quando eu mostrava alguma imagem, tinha a preocupação de a descrever, para ele poder imaginar. Frequentemente ele dizia-me: "Professora, não diga mais. Eu já estou a ver o resto."
Por vezes, pedia-lhe para descrever o resto e ele fazia-o na perfeição, mesmo quando não se via tudo quanto ele imaginava. Era muito interessante!
Uma história mais bonita que a minha. A minha não acabou bem.
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