A tolerância é um bem precioso na vida das comunidades e uma
das dimensões mais importantes da democracia. A luta pela democracia tem sido a
luta pela tolerância.
É sempre um processo em aberto, tomando, cito Camões, novas
qualidades. Agora chega o tempo de discutir a tolerância de ponto.
O Governo, numa intolerante decisão, decidiu não conceder tolerância de ponto na terça
feira de Carnaval aos funcionários da administração pública. O argumento, como
vai sendo habitual, radica na produtividade o que traduz o equívoco de que a
produtividade é exclusivamente consequência de mais trabalho e não de melhor
trabalho.
Por outro lado, em muitos sectores levantou-se uma
intolerante contestação à decisão do Governo. A argumentação radica nos
direitos adquiridos, no “timing” da decisão e nos eventuais impactos económicos
em regiões onde existe a indústria do Carnaval.
Como o povo costuma dizer, “Casa onde não há pão, todos
ralham e ninguém tem razão”, nem tolerância acrescento eu. Numa outra
abordagem, mais tolerante, poderíamos dizer que todos têm razão.
Acontece que, como era de prever, a tolerância é algo a que
uns acedem outros não. O sector privado, boa parte dele, vai beneficiar da
tolerância, está nos regulamentos e temos os supra-citados direitos adquiridos.
Na administração surgem também excepções. Alberto João com a
tolerância que o caracteriza irá, como de costume, decidir que na Madeira há
tolerância, algo que ele nem precisava de dizer, nós conhecemos a tolerância
existente na Pérola da Atlântico. Ao que se começa a saber também várias autarquias já
decidiram ou vão decidir pela existência da tolerância.
Este processo, ele próprio já inscrito, na época
carnavalesca é elucidativo. A tolerância não é para todos, é um bem precioso
mas de difícil administração, até a tolerância de ponto.
Continuemos, pois, tolerantes para com o mundo e para com as
pessoas que o infernizam.
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