terça-feira, 10 de setembro de 2013

UM RAPAZ CHAMADO HOMENZINHO

Era uma vez um rapaz chamado Homenzinho. Desde pequeno que assim era, um Homenzinho. A família achava-lhe imensa graça, tão pequeno e já um Homenzinho. Ele não brincava com os seus colegas, relacionava-se com eles como se fosse um Homenzinho, tomava conta deles, e até de forma mais cuidadosa que alguns adultos. O Homenzinho mostrava um sentido de responsabilidade e um tipo de comportamento próprios, claro, de um Homenzinho e não da idade que tinha. Os adultos incentivavam e o Homenzinho cada vez mais e mais depressa parecia um Homenzinho.
Na escola a sua acção era do mesmo tipo, muito responsável para a idade, diziam alguns os professores. Muito maduro e equilibrado afirmavam outros professores verificando que o Homenzinho não mostrava falhas. Não tinha muitos amigos, aliás, não tinha amigos, os colegas achavam o Homenzinho um chato desinteressante.
Apenas uma pessoa na escola, o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros não se deixava fascinar pela forma como o Homenzinho funcionava. E ia avisando, o Homenzinho está a esquecer-se de algo que lhe faz muita falta antes de chegar a grande. Ninguém parecia entendê-lo.
Um dia, sem se perceber muito bem porquê o Homenzinho começou a fazer disparates, alguns disparates bem sérios, e a mostrar comportamentos que nunca ninguém lhe vira. Ninguém conseguia segurá-lo e ainda hoje continua.
O Professor Velho tinha razão, há um tempo para miúdo e há um tempo para crescido, o Homenzinho crescera tão depressa que se esquecera de brincar e agora não conseguia parar, magoava-se e magoava.

1 comentário:

não sei quem sou... disse...

A minha vida está no ocaso, portanto a história (verdadeira) que vou contar tem seguramente 60 anos.

"Na minha rua, sim porque nessa altura todas as crianças tinham uma rua onde jogavam á bola, á carica, ao pião ou berlinde. A nossa rua também servia para convidarmos os nossos amigos a irem brincar para lá. Quem não se lembra da frase "anda brincar para a minha rua".

Todos os domingos de manhã, durante alguns anos, um miúdo da mesma idade (5,6,7 anos) estava plantado e em comportamento militar á porta de um café do bairro, vestido de fato completo, incluindo colete camisa e gravata enquanto seu pai (?) bebia alguns aperitivos, suponho.
Todos nós, os jogadores de bola, olhavamos para a outra criança com o sentimento de "coitadinho" estampado nos olhos e a criança-homem com o olhar tão infeliz, tão infeliz, que ainda hoje esse olhar me persegue.
Não sei qual o percurso de vida dessa criança, mas uma coisa eu imagino. AQUELE PAI NÃO TEVE O AMOR DAQUELE FILHO EM TODA SUA PLENITUDE.


VIVA!