quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O EXAME AOS PROFESSORES. O facilitismo do MEC

Como era esperado foi aprovada em Conselho de Ministro a legislação que estabelece o exame de acesso à carreira de professor. Desconhecendo ainda os contornos precisos do texto legal retomo algumas notas sobre a questão.
Ao que parece e de acordo com o  que sempre foi a intenção MEC, para além dos novos candidatos todo os professores que não estejam integrados na carreira, ou seja, pessoas com muitos anos de experiência bem sucedida e avaliada terão de realizar um exame de acesso a uma profissão que exercem há anos. Estranho? Não, apenas coerente com a relação mágica que o Ministro tem com os exames, ou seja, fazem-se exames, muitos exames, que a coisa melhora, seja o que for. Deve no entanto dizer-se que o exame estava previsto desde 2007 sem nunca ter sido concretizado sendo que se designará Prova de Avaliação de Conhecimentos, Capacidades e Competências naquela tendência actual de sofisticar e mascarar designações.
Como sempre tenho referido, a imposição deste exame traduz, como parece claro, a desconfiança sobre a formação de professores quer nos politécnicos, quer nas universidades, curiosamente também sob tutela do MEC. Relembro que em 2009, o então Secretário de Estado da Educação, Jorge Pedreira, defender a realização do exame de entrada para a carreira docente com o argumento de que existem Escolas de Ensino Superior sem qualidade e facilitistas, sempre o facilitismo, que não dão garantias de qualidade na formação dos seus alunos, citando em declarações à Lusa, os casos do Instituto Piaget e do Instituto Superior de Ciências Educativas.
A falta de regulação da qualidade do ensino superior, público e privado, é algo que toda a gente minimamente conhecedora do meio tem como adquirido. É, no entanto, necessário um “pequenino” esclarecimento, a falta de regulação da qualidade de formação inicial, neste caso dos professores, é da exclusiva responsabilidade do Estado através do quadro legal que definiu e da demissão com que encarou a proliferação de cursos públicos e privados que contribuindo, caso dos privados, para que milhares de jovens acedessem a formação de nível superior que as instituições públicas não tinham condições de providenciar, nasceram e cresceram sem qualquer controlo sério de qualidade. Do caos instalado emergem, naturalmente, boas e más instituições.
O Ministro Nuno Crato, a propósito do exame, afirmou há dias que não se pode ensinar o que não se sabe pelo que é preciso avaliar o conhecimento científico.
A grande questão, para quem conhece o universo das escolas não é o conhecimento científico sobre as matérias que leccionam. A qualidade do trabalho dos professores é algo de bastante mais complexo e que não cabe num exame sobre “saber científico” ou mais genérico sobre "competências fundamentais". A questão é que Nuno Crato “mede” o que valoriza no seu entendimento, errado, e valoriza o que acha que “consegue” medir, o resultado é este discurso.
Poderíamos considerar, como se passa noutros países, que à entrada na carreira um professor cumpra um ano de trabalho em que é avaliado em diferentes aspectos, mas o exame de entrada, tal como proposto pelo MEC, é “facilitismo”, ou seja, sendo uma forma fácil de eliminar candidatos a professores, mais bizarro e insustentável se torna quando aplicado a professores com muitos anos de prática avaliada positivamente.

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta tem muita graça, vinda de um Ministro que, em 24.5.2013, inaugurou a Escola Superior de Desporto de Rio Maior do Instituto Politécnico de Santarém que ministra doutoramentos...

http://www.oribatejo.pt/esdrm-com-doutoramento-em-ciencias-do-desporto/

http://www.oribatejo.pt/15-anos-depois-a-escola-de-desporto-de-rio-maior-chegou-a-casa-videos/


Se no motor de busca pesquisarem:

Anexo Técnico nVI –UMa – IPS.tif – GPC – Universidade da Madeira

Vão encontrar um ficheiro PDF, que encerra um documento que ficará para a história do ensino superior – PÚBLICO - e nessa medida, caso nele tenham interesse, aconselho que façam a sua impressão, enquanto está disponível. Documento este, que nos permite perscrutar o modus operandi seguido para o Doutoramento em Ciências do Desporto, da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, do Instituto Politécnico de Santarém, em parceria com a Universidade da Madeira. E, com alguma ironia, atentos os “vice-versas” em voga no ensino superior público português, concluir até que lhes é muito mais fácil ministrarem um Doutoramento do que uma Licenciatura.

Quiçá, esta inauguração até provocou uma crise neste Governo que nós não sabemos...

Vejam,

http://www.dges.mctes.pt/NR/rdonlyres/A5D453D1-2F67-4980-9ED1-D5505CA3B27E/6873/Esclarecimento2.pdf

Questão é se depois do Sr. Ministro da Educação ter inaugurado a ESDRM, do IP de Santarém, este Sr. Secretário de Estado do Ensino Superior tinha condições para continuar a exercer as funções...?

O certo é que na remodelação este Sr. Secretário de Estado do Ensino Superior foi substituído.