Não estava pensar retomar a questão dos exames nacionais, ou melhor a extensão dos exames nacionais ao primeiro ciclo, mas a prosa de José Manuel Fernandes no Público a isso me leva.
Em primeiro lugar, também entendo que alguma da argumentação não favorável aos exames, ouvida na Assembleia da República e que JMF cita é, aqui concordamos, no mínimo, ridícula e sem sustentação, a questão não tem, do meu ponto de vista, a ver com elitismo nem com, e aqui começa a minha discordância com JMF, as "coitadinhas das crianças" que têm de fazer o exame. Este tipo de argumentação e a chamada de atenção argumentativa para o exame da quarta classe do estado novo, é um bom exercício de demagogia mas não serve para nada nem justifica o que quer que seja.
A questão dos exames, insisto, não é a sua realização, é sua utilização com a crença quase mágica de que só por existirem, a qualidade dos resultados dos alunos melhora.
Sempre que me refiro a estas questões sublinho a imprescindibilidade que se proceda a avaliações sérias, rigorosas e regulares do trabalho dos alunos, é importante para eles, para os professores, para os pais e, naturalmente, para a gestão e melhoria do sistema. A avaliação, os exames são imprescindíveis. Ponto.
Dito isto, a questão que coloco é que não vale a pena acreditar que se se instituírem os exames nacionais, por exemplo no 1º ciclo, a qualidade subirá, não é assim que as coisas funcionam e como JMF saberá, mas não diz, alguns dos sistemas educativos com melhores resultados escolares e que cita, não têm a figura exame nacional ao fim de 4 anos de escolaridade.
Insisto, os meninos podem fazer os exames, não serão uns "coitadinhos" a quem isso acontece. A minha questão é que aos miúdos que ao longo dos quatro anos do ciclo forem experimentando algumas dificuldades e as escolas e as famílias, como frequentemente acontece, não forem capazes de providenciar apoio precoce e eficaz, o facto de irem fazer um exame nacional ao fim do ciclo apenas irá certificar o seu insucesso, não lhes dá qualquer ajuda e é absolutamente ineficaz.
Esta é, do meu ponto de vista, a essência, a necessidade dos apoios aos miúdos e aos professores. Com estes dispositivos assegurados a realização dos exames será tranquila.
Misturar esta questão com o problema da imprescindível autonomia, mas autonomia real das escolas, e com a questão do ensino privado vs ensino público é outro exercício pouco justificado que, naturalmente, se entende à luz da agenda de JMF mas que neste contexto não é relevante, embora o "lobbying" obrigue e explique.