Como acontece regularmente, é
divulgado O Relatório Health Behaviour in School-aged Children, da
responsabilidade da OMS, coordenado em Portugal pela excelente equipa da
Professora Margarida Gaspar de Matos.
No estudo com 42 países e regiões
e dados de 14/15, foram envolvidos em Portugal cerca de 6 000 adolescentes
com idades de 11, 13 e 15 anos, alunos do 6º, 8º e 10º ano.
Pela sua extensão e riqueza o Relatório
merece leitura atenta e uma reflexão não compatível com espaços desta natureza.
Algumas notas breves mais
relacionadas com a sua percepção da relação estabelecida com a escola.
Os alunos portugueses expressam
uma apreciação negativa da escola, das mais baixas entre os 42 países
participantes, apenas 11% dos rapazes e 14% das raparigas aos 15 anos afirma
gostar da bastante da escola, resultado mais baixo que em edições anteriores.
Os alunos portugueses são dos que
menos competentes em termos escolares se percebem e dos que se sentem mais
pressionados para os resultados escolares.
Gostam dos colegas e dos
intervalos e não gostam das aulas porque as consideram aborrecidas e com
matéria excessiva.
Esta apreciação negativa, das
mais negativas e em crescimento, não surpreende quem conhece o ambiente e clima
das escolas e, evidentemente, deveria ser um motivo de forte preocupação para a
comunidade a começar pela tutela.
É claro que a escola não pode
organizar-se e funcionar assentando exclusivamente nas percepções que os alunos
têm do que deveria ser e acontecer mas é claro que não pode, não deve, esquecer
o que eles pensam e como sentem relativamente à sua presença na escola.
É necessário analisar de forma
aprofundada, sem preconceitos e fora das lutas da partidocracia pelo controlo
da escola, a sua organização, tempos e funcionamento.
É necessário reflectir sobre os
conteúdos curriculares que carecem de adequações dada a sua extensão e carácter
prescritivo e normativo.
É necessário e urgente a promoção
da estabilidade do corpo docente e da sua valorização como factor estruturante
da sua relação com os alunos.
É importante a definição de uma
oferta educativa diferenciada, em tempo ajustado no trajecto escolar dos alunos
e de forma a que não seja percebida pelas comunidades educativas como uma via
de primeira destinada aos bons alunos ou de segunda destinada aos falhados e
menos competentes.
É necessário promover uma
verdadeira desburocratização e autonomia das escolas e dos professores,facilitadoras
da definição de climas de escola amigáveis para professores, funcionários pais
e alunos. Esta autonomia deveria contemplar obrigatoriamente aspectos como a
constituição das turmas e o seu efectivo
Assegurar a existência de apoios
eficazes e competentes às dificuldades de professores e alunos, e de técnicos
com intervenção em processos de aconselhamento, orientação e regulação de
comportamentos e aprendizagem, etc., etc.
Entre outras, estas são dimensões
essenciais para uma melhor escola, mais amigável para todos os que nela habitam
e que, do meu ponto de vista, a política educativa dos últimos anos não tem
acautelado, não promovendo uma escola assente em princípios de educação
inclusiva e com qualidade e com os recursos necessários.
Ao contrário, tem-se construído
uma escola que faz o pleno, muitos alunos, professores e funcionários embora
gostem genericamente da escola, desgostam da sua escola, da escola que têm.
Ao escrever estas notas estava a
recordar que há algum tempo me convidaram a participar numa iniciativa que
tinha com título genérico "Fugir para a escola" que achei curioso e hoje
recordei.
Seria muito interessante, mas não
passa, provavelmente, de um romantismo não compatível com a dureza crispada,
agressiva e feia, dos tempos e da vida actual, imaginar que os miúdos quisessem
fugir para a escola, não porque fugissem de algo mau, o contexto familiar, por
exemplo, e que em bom rigor e lamentavelmente é por vezes tão mau que obriga a
fugir, mas porque os miúdos quisessem correr para a escola por nela se sentirem
bem e não apenas nos intervalos e com os amigos.
Por outro lado, nos tempos que correm
também muitos professores, bons professores, mostram por cansaço ou
desesperança que já não fogem para a escola, um lugar de realização, de
trabalho duro mas com uma das maiores compensações que se pode ter, ajudar
gente pequena a ser gente grande.
O clima institucional, a
burocracia, a deriva política foram, vão, levando a que a escola não apeteça. Felizmente,
muitos outros professores ainda conseguem fugir para escola, os alunos desses
professores são gente com sorte.
Será que ficou mesmo impossível
acreditar que alunos e os professores, de uma forma geral, queiram fugir para
escola?
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