segunda-feira, 14 de março de 2016

DAS CIÊNCIAS SOCIAIS E DAS HUMANIDADES

No DN encontra-se um trabalho muito interessante sobre a questão da escolha de formação no ensino superior na área das Ciências Sociais e das Humanidades questionando a sua utilidade e empregabilidade. São inquiridos alguns jovens que defendem com entusiasmo a sua opção pela formação nesta área apesar das dificuldades que sabem existir.
Na verdade, nos últimos anos emergiram discursos que de forma mais explícita ou implícita desvalorizam o papel desta área.
Mesmo ao nível da investigação científica e do seu financiamento a área das Ciências Sociais foi arrasada pela crática negrura que se abateu sobre o tecido científico e de investigação em Portugal.
A visão centra-se quase que exclusivamente na empregabilidade e “utilidade” destas áreas científicas, as Ciências Sociais e as Humanidades.
As Universidades tendem a ser vistas uma escola profissional para as empresas o que assenta num equívoco tremendamente perigoso, confundir desenvolvimento tecnológico com desenvolvimento científico.
Este equívoco esteve claramente presente na política de Crato para a ciência e investigação com o esmagamento das Ciências Sociais e das Humanidades ou em discursos como do então Ministro da Economia, Pires de Lima quando afirmava com preconceito e ignorância que é preciso que a investigação (maioritariamente desenvolvida enquadrada pelas universidades) "se traduza em produtos, marcas e serviços que possam fazer a diferença no mercado e devolver à sociedade o investimento que fizemos".
Tal entendimento mostra mais uma vez a ignorância sobre a ciência, o seu desenvolvimento e o papel fundamental no desenvolvimento das sociedades, eliminando pura e simplesmente as ciências sociais e das humanidades, evidentemente inúteis por não criarem "produtos, marcas e serviços".
É evidente que a empregabilidade e a transferência de conhecimentos para o tecido económico são dimensões a considerar na organização da oferta formativa mas existe um conjunto vasto e imprescindível de formação universitária de que não podemos prescindir com o fundamento exclusivo no mercado de emprego. Podemos dar como exemplo formações na área da filosofia ou nichos de investigação que são imprescindíveis num tecido universitário e social moderno e que cumpra o seu papel de construção e divulgação de conhecimento e desenvolvimento em todas as áreas. 
As universidades não podem ser o departamento de formação profissional das empresas.
Uma sociedade com gente formada e investigar nestas áreas é uma sociedade mais desenvolvida.

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