O Conselho de Ministros de ontem
aprovou um pacote de medidas de política educativa. Umas notas sobre o ponto 4
referente à Educação Inclusiva sobre a qual se lê no comunicado oficial, “Assim, o Ministério da Educação, em parceria com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e com o Ministério da Saúde, cria um Grupo de Trabalho com a missão de melhorar o enquadramento legal da Educação Inclusiva, adequando-a às reais necessidades educativas especiais dos alunos”.
Dada a natureza deste espaço umas
notas muito breves.
Inúmeras vezes tenho referido a
necessidade de mudanças no quadro legal que suporta a educação de alunos com
necessidades educativas especiais nas escolas regulares. Apesar da retórica
preambular assente na promoção da inclusão muitas das disposições acomodam
práticas de exclusão ampliadas por um sistema educativo sem regulação eficaz.
Quer no Atenta inquietude, quer
em intervenções e textos no contexto profissional, quer em audições no ME, no CNE ou na AR para as
quais tiveram a gentileza de me convidar tenho acentuado várias das mudanças que do meu ponto de vista são necessárias e diria urgentes.
Retomo aquilo que costumo
designar por “pecado original” do DL 3/2008, a base legal mais “pesada” nesta
matéria, a introdução do critério de elegibilidade para que os alunos possam
aceder a apoios educativos.
Esta decisão que contestei desde
o início e uma das mais emblemáticas incompetências da passagem de Maria de Lurdes
Rodrigues implicou que milhares de crianças com dificuldades deixassem de ter
apoio.
Em educação não existe “elegibilidade”.
A justificação dada na altura é que muitos alunos eram apoiados sem que se
justificasse. Como? Qualquer aluno que experimente algum tipo de dificuldade,
mais ligeira, mais pesada ou mesmo não identificada mas sentida pelos
professores deve ter algum tipo de apoio, deve ser avaliada, bem avaliada, e a
intervenção ou orientação será conforme essa avaliação. Não deve ser
considerada elegível ou não elegível.
Estabelecendo este errado
entendimento tornou-se necessário encontrar forma de dividir os alunos.
Recorreu-se a uma instrumento muito interessante para várias objectivos mas não
avaliação educativa a CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade, um
instrumento produzido no âmbito da Organização Mundial de Saúde para fins que,
evidentemente, não se dirigiam à educação.
Como consequência, milhares de
alunos ficaram sem apoios. Mais recentemente tem-se assistido a um outro processo,
se não forem elegíveis os alunos não têm apoios e as escolas, os professores e
técnicos, sentem-se obrigados a recorrer a um rótulo que os torne elegíveis e,
portanto, a acederem a apoio de que precisam ao qual não acederiam se não
fossem “classificados” como elegíveis.
Esta é uma questão central do meu
ponto de vista. Importaria também simplificar e clarificar procedimentos e
terminologia.
A título de exemplo apenas a
referência a uma coisa bizarra chamada CEI – Currículo específico Individual,
uma originalidade, ainda não encontrei nada assim designado, dado que se um
currículo é individual, dificilmente não será específico. Esta coisa já está em
aplicação a alunos do 1º ciclo em circunstâncias inquietantes pelo impacto no futuro educativo dos alunos.
Neste sentido creio que se
deveria reflectir de forma alargada em tudo o que envolve questões de natureza
curricular ou organização das respostas, escolas de referência, unidades estruturadas,
etc. que apesar de algumas boas práticas em algumas circunstâncias são espaços
de exclusão em nome … da inclusão.
As questões relativas à avaliação
escolar merecem também ajustamento mas de forma integrada relativamente a todo
o sistema de avaliação da escolaridade obrigatória.
Finalmente apenas mais uma referência
à urgência de repensar os modelos de envolvimento de entidades e técnicos
exteriores à escola no período da escolaridade obrigatória. Em outsourcing não se promove educação de
qualidade e inclusiva.
Muitas outras questões merecem atenção pelo que, provavelmente, voltaremos a esta matéria
A ver vamos o que acontecerá. No entanto, seria crucial que desde logo se assumisse que sendo importante "melhorar o enquadramento legal" tudo o resto é fundamental, recursos, meios, qualificação, supervisão e regulação, envolvimento e participação dos pais, etc., etc.
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