A Secretária de Estado da
Inclusão das Pessoas com Deficiência anunciou que que o Governo definirá em
breve a possibilidade a de acesso a fundos comunitários para os movimentos que
promovem a vida independente para pessoas com deficiência bem como a criação de
residências autónomas.
O anúncio foi feito no âmbito da
avaliação em curso por parte do Comité das Nações Unidas dos Direitos das
Pessoas com Deficiência da implementação e o cumprimento das normas
estabelecidas pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
A intenção agora anunciada, sobre a qual se aguarda mais informação, irá ao encontro de algo que movimentos e
organizações como os (d)Eficientes Indignados, têm vindo a exigir, o respeito
pela autonomia e direitos individuais e sociais das pessoas com deficiência,
designadamente, o direito à independência e autodeterminação.
O Comité terá feito alguma
pressão neste sentido pois segundo a Secretária de Estado o Comité tem
"uma ideia formada" de que Portugal é um país "muito
institucionalizador". Estranhamente, a Dra Ana Sofia Antunes afirma que “tentou
desconstruir esta ideia” no que diz respeito às pessoas com deficiência, ideia
que tentou desconstruir.
Digo estranhamente pois é exactamente
esse o cenário, uma visão institucionalizadora.
Na verdade, a política social dos
últimos anos pode, também, sintetizar-se da seguinte forma, cortes brutais nos
apoios às pessoas, às famílias, Rendimento Social de Inserção, subsídio de
desemprego, abono de família, etc., e aumento dos apoios às instituições que
operam no sector social.
Para quem nos tem governado os
pobres ou pessoas com deficiência não são capazes de tomar conta de si
próprias, precisam sempre da tutela cuidadora de uma instituição. Uma versão
enviesada de um estado social.
Com este entendimento, a título
de exemplo e como alguns trabalhos têm evidenciado, o Estado prefere entregar a
uma instituição uma verba para alimentar uma família numa cantina social
superior à verba que essa família recebe em Rendimento Social de Inserção.
Como é evidente as instituições
agradecem, as pessoas comem mas ... não se libertam da pobreza e da
dependência.
Situação semelhante se passa no
universo das pessoas com deficiência existe o mesmo problema que tem motivado
uma luta importante por parte das pessoas com deficiência.
De facto, o estado subsidia as instituições
para apoio a deficientes em 951€ mais uma parte dos rendimentos dos cidadãos
institucionalizados mas não apoia as próprias pessoas que poderiam encontrar
por sua iniciativa respostas e, provavelmente, com menores custos. Os cidadãos
com deficiência exigem também assumir a decisão sobre a escolha do seu
cuidador(a) dada a natureza da relação que se estabelece.
Mas é esse o entendimento
subjacente a boa parte das políticas sociais, os pobres, tal como as pessoas
com deficiência, não sabem tomar conta de si, precisam sempre da presença de
uma instituição prestadora de cuidados, não são autodeterminadas,
independentes.
Como é evidente, este discurso
não pretende tornar dispensáveis as instituições, são necessárias
particularmente em situações de crise ou de problemáticas mais severas, mas,
simplesmente, de defender que as pessoas, muitas delas, são capazes de tomar
conta de si próprias, incluindo a gestão dos apoios que a sua situação possa
justificar.
No fundo, é, simplesmente, uma
questão de direitos individuais e sociais.
Esperemos que a porta agora aberta
não se feche nem se deturpe e se caminhe no sentido certo, o respeito pela
autonomia e direitos individuais e sociais das pessoas com deficiência,
designadamente, o direito à independência e autodeterminação.
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