O meu amigo e companheiro de
estrada profissional, David Rodrigues, divulga hoje no Público um texto
estimulante, “A Inclusão e os “peritos em possibilidades””.
Logo no início afirma, “Hoje, Portugal é um dos países mais
avançados do mundo no capítulo da educação dos alunos com condições de
deficiência.” Será? O que significa “mais avançado”?
No entanto, todo o restante
enunciado se dirige às necessidades de promoção das mudanças necessárias para que
as escolas inovem e se transformem em escolas menos selectivas e mais
inclusivas. Talvez o avanço não seja assim tão grande.
É verdade que quem como eu acompanha
este universo há algumas décadas não pode deixar de reconhecer o quanto se
avançou mas é imperativo reconhecer o quanto está por fazer por uma educação de
qualidade e de qualidade para todos. Neste sentido e dada a importância e a
necessidade de uma pressão constante no sentido de promover uma educação que
acomode a diversidade e necessidades de todos os alunos, aqui deixo umas notas
breves.
A educação inclusiva e a equidade
em educação não decorrem de uma moda ou opção científica, são matéria de
direitos pelo que devem ser assumidas através das políticas e discutidas,
evidentemente, na sua forma de operacionalizar. Aliás, poderá afirmar-se,
citando Biesta, que a história da inclusão é a história da democracia, a
história dos movimentos que lutaram pela participação plena de todas as pessoas
na vida das comunidades, incluindo, evidentemente, a educação.
Nesta perspectiva e apesar de excelentes exemplos de boas práticas os tempos que
vivemos são tempos de exclusão, de competição, de desregulação ética e de
oscilação de valores que atingem, evidentemente, os mais frágeis, caso das
crianças e jovens com necessidades educativas especiais e as suas famílias.
Logo de muito novos os miúdos
começam a passar por sucessivos crivos, exames escolares ou Classificações de
outra natureza. Muitos são identificados por etiquetas, "repetentes",
"dificuldades de aprendizagem", "necessidades educativas especiais
permanentes", "hiperactivos" "autistas", etc.,
agrupam-se os miúdos com base nessas etiquetas, do ensino vocacional, às
unidades ou escolas de referência e “guetizam-se” por espaços, curriculares ou
físicos, entre a escola e as instituições, de novo e cada vez mais.
É verdade que também temos
excelentes exemplos de trabalho em comunidades educativas que, tanto quanto
possível e com os recursos de que dispõem, se empenham em estruturar até ao
limite ambientes educativos mais inclusivos em que todos, mesmo todos,
participem. Como sempre afirmo, a participação é um critério essencial de
inclusão.
Deveremos então falar do copo
meio cheio ou do copo meio vazio?
Existem miúdos que não estão ou
não se sentem a fazer parte da comunidade educativa em que estão, não
“integrados” mas “entregados”, por várias razões e nem sempre por dificuldades
próprias.
Existem pais que não estão ou não
se sentem a fazer parte da comunidade educativa em que os seus filhos cumprem
os dias.
Existem professores que não estão
ou não se sentem a fazer parte da comunidade educativa onde se empenham e
querem trabalhar apesar dos meios e recursos tantas vezes insuficientes e
desadequados.
Existem orientações normativas e
políticas que, sempre em nome da inclusão, acabam por promover ou facilitar a
exclusão.
Existem direcções escolares,
poucas, quero acreditar, que gostariam de ver as suas escolas ou agrupamentos
mais “bem frequentadas”, alguns miúdos só criam dificuldades e atrapalham os
resultados das escolas.
Será a nossa escola inclusiva? Passará
o futuro da nossa escola pública pelos princípios da educação inclusiva e pela a
garantia da equidade educativa?
Eu quero acreditar que sim, já
percorremos muito caminho mas ainda falta muito mais caminho.
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