quarta-feira, 1 de julho de 2015

QUANDO O TELEFONE TOCA

Ao que se lê na imprensa a Entidade Reguladora para a Comunicação Social encontra "Fortes indícios de acções enganosas" nos concursos com chamadas telefónicas que proliferam nas televisões. Nada de que se não suspeitasse tão evidentes são os abusos. Vamos ver se se verificam alterações.
Esta chamada de atenção para a utilização das chamadas telefónicas e publicidade levou-me para uma nostálgica, saborosa e tranquila viagem de décadas lá para o início da minha adolescência.
Naquele tempo, na minha casa tínhamos como equipamento para ouvir música um excelente rádio, ainda de válvulas, que, além da música permitia ouvir algumas coisas em onda curta que não queriam que ouvíssemos sendo nessa altura usado quase em surdina.
Entretanto, com as economias da costura da minha mãe e dos serões e trabalho a prémio que o meu pai fazia no Arsenal do Alfeite, ofereceram-me um espectacular gravador de cassetes com rádio incluído, um fascínio. Só algum tempo depois chegou uma televisão lá casa.
Era este rádio e gravador, companheiro de todas as horas quando em casa, que me permitia ouvir música, algo que não dispenso. Ainda hoje sempre tenho música à minha beira, tal como agora que estou a escrever na companhia de uns velhos conhecidos “Os Doors” de Jim Morisson.
Com este extraordinário equipamento comecei a construir a minha "casseteca" a partir dos programas que passam música de que gostava e que era ouvida na rádio pois muita não era passada, eram tempos de censura.
O problema é que, muitas vezes, as músicas que iam passando não eram anunciadas previamente o que não permitia gravá-las integralmente. Não contem a ninguém destas piratarias.
No entanto, várias estações de rádio tinham programas de discos pedidos, quase sempre com um formato muito popular, "Quando o telefone toca", em que o ouvinte, depois de reproduzir a frase publicitária solicitada naquele dia e programa, pedia um "disco". Estava atento e com os dedos a postos para carregar no "rec" sempre que era pedida música me interessasse. Devo dizer que muitas vezes, era um esforço e um tempo inglórios, não "pescava" algo de que que gostasse.
Muitas dezenas de músicas foram sendo assim, laboriosamente, coleccionadas, aumentando o acervo e tendo uma banda sonora que me acompanhava.
Como curiosidade sobre este tipo de programas, "Quando o telefone toca", lembro-me de uma vez o, ou a, ouvinte ter dito a frase publicitária "Compre o seu frigorífico no Ultramar" em vez de um mais fácil "Compre o seu frigorífico na "Ultralar"" uma, à época, bem conhecida loja de electrodomésticos.
Outros tempos, outras vidas. Achei engraçada esta viagem ao passado.

3 comentários:

Ana disse...

Muito engraçadas as suas memórias!
Eu tive menos sorte. Frequentava um colégio interno, onde todos esses equipamentos eram proibidos. Se existiam, era na clandestinidade.
Por acaso, tinha um pequeno transistor que levava para a cama, bem escondidinho debaixo dos lençóis, para ouvir o programa "Quando o telefone toca", com os "egoístas" nos ouvidos. Um dia, o sono foi mais forte, deixei-me dormir e remexi-me de tal modo que os "egoístas" se soltaram do transistor e houve música para a geral.
Escusado seria contar o resto: fiquei sem o transistor de vez e com o castigo de, durante uma semana, ir para a camarata logo a seguir ao jantar, sem direito a recreio. :-(

Ana disse...

ADENDA (em jeito de piada): Não acha que hoje, uma criança com estes tratos se tinha transformado num adulto traumatizado? É que o destino do transistor foi o mesmo dos livros de banda desenhada, mesmo do Astérix e do Tintim ("leituras impróprias"), dos pacotes de bolachas, dos "Tupperwares" com bolinhos da avó, etc e tal...
Enfim, outros tempos!

Zé Morgado disse...

É mesmo memória, não é saudosismo, embora me pareça que a vida dos miúdos tendo, genericamente, mais e diferente do que nós tínhamos, não é nada fácil.