Neste cenário, os desequilíbrios
fortíssimos entre oferta e procura em diferentes sectores, a natureza da
legislação laboral favorável à precariedade e insensibilidade social e ética de
quem decide, promovem a proletarização do mercado de trabalho mesmo em áreas
especializadas ou mesmo o recurso a uma forma de exploração selvagem com uma
maquilhagem de "estágio" mal remunerados ou mesmo sem qualquer
remuneração a não ser a esperança residual de vir a merecer um emprego pelo
qual se luta abdicando até da dignidade.
Com este tipo de expediente bem como com a mistificaçao de formação profissional que prolifera compõem-se as estatísticas do desemprego.
Acontece ainda que alguns dos
vencimentos que se conhecem, atingindo também camadas altamente qualificadas,
não são um vencimento, são um subsídio de sobrevivência.
É justamente a luta pela
sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de
desemprego e à entrada no mundo do trabalho, sem margem negocial, altamente
fragilizadas e vulneráveis, que entre o nada e a migalha "escolhem
amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um
emprego no fim de período de um indigno trabalho gratuito. Como é evidente esta
dramática situação vai de mansinho alargando e numa espécie de tsunami vai
esmagando novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático
é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso,
as pessoas são activos descartáveis.
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