O surgimento da candidatura de
Sampaio da Nóvoa à Presidência da República, as reacções e discursos que tem suscitado para a apoiar e para a combater, constituem um processo profundamente elucidativo relativamente ao cenário político português e à necessidade de mudanças significativas e urgentes.
Como muitas vezes tenho referido,
o modelo e cultura política instalados há décadas na nossa comunidade, a
partidocracia, fomentam, explicita ou implicitamente, o afastamento de grande
parte dos cidadãos da participação cívica activa pois, basicamente, ela corre
por dentro ou sob tutela dos aparelhos partidários. Aliás, os níveis crescentes
e muito altos da abstenção em sucessivas eleições espelham isso mesmo.
De facto, no actual quadro
político-administrativo é muito difícil a intervenção cívica, no sentido
político, fora da tutela dos aparelhos partidários cuja praxis e discursos
criaram um partidocracia que minou a confiança e tem provocado o afastamento
dos cidadãos pelo que se percebe a afirmação da necessidade de mudança.
Verifica-se também que a
capacidade de mobilização dos partidos se dirige, sobretudo, a uma minoria de
pessoas que emerge dos respectivos aparelhos que, assim, podem aceder e manter
alguma forma de poder e a uma maioria que enche autocarros, recebe uns brindes
e tem um almocinho de borla. A partidocracia não atrai porque os partidos se
tornam donos da consciência política das pessoas, veja-se o espectáculo
deprimente da Assembleia da República, salvo honrosas excepções vota-se o que o
partido manda, independentemente da consciência.
Reconhece-se hoje que as camadas
mais novas, sobretudo mas não só, atravessam uma complexa situação envolvendo
os valores, a confiança nos projectos de vida, os estilos de vida, etc. Neste
quadro, a adesão à intervenção política, tal como se verifica genericamente em
Portugal, parece mais uma parte do problema, é velha a partidocracia para
responder a problemas novos, que um caminho para a solução.
Creio que o descontentamento e
desconfiança de muitos dos cidadãos, traduzidos em percentagens de abstenção
acima dos 50%, mostram que importa pensar numa participação política para lá
dos partidos, várias manifestações com grande mobilização que escaparam à
lógica da partidocracia, bem como iniciativas de grupos de cidadãos mobilizados
por causas ou algumas candidaturas verdadeiramente fora do espectro partidário,
dão sinais nesse sentido.
De tudo isto resulta, como muitas
vezes refiro, o afastamento das pessoas pelo que a construção de outras formas
de participação cívica parece ser a única forma possível de reformar o quadro
político que temos, ou seja, os partidos ou definham ou mudam, pela pressão do
exterior.
Existe, tem que existir política
para além dos partidos, que se reformam ou tenderão a implodir com riscos para
própria democracia cuja saúde já está debilitada.
É neste cenário que a candidatura
de Sampaio da Nóvoa pode ser um verdadeiro sinal de mudança.
No entanto, é curioso e,
sobretudo, preocupante, atentar nas reacções que emergem à candidatura dentro
dos aparelhos partidários e mesmo em alguma comunicação social que combate
Sampaio da Nóvoa e descaradamente promovem figuras, pacíficas, cinzentas mas
que pertencem à partidocracia, serão mais do mesmo.
São exemplos destas reacções, a
pressão dentro do PS, de Francisco Assis ou de um “aparelhista encartado” como
Sérgio Sousa Pinto, para que o partido não vá atrás do “radicalismo”, da visão
de “esquerda”, “inexperiência política” de Sampaio da Nóvoa e, mais recentemente
a promoção apressada e reactiva da figura altamente “mobilizadora” de Maria de
Belém, um símbolo da mudança necessária na sociedade portuguesa.
No mesmo sentido, o Expresso ou
mesmo o Correio da Manhã em editorial do Director, rejubilam com a hipótese de Maria
de Belém, com sondagens “muito favoráveis” que poderá travar a “histeria” que a
candidatura de Sampaio da Nóvoa estará a provocar.
Não defendo que a candidatura de
Sampaio da Nóvoa se afirme contra os partidos, estes são essenciais em
democracia, mas é importante que não se sustente nos aparelhos partidários que,
mais cedo ou mais tarde terão a tentação de lhe retirar independência, de lhe
cercear uma visão inteira da sociedade portuguesa e do seu rumo.
Continuo a pensar, já o disse,
que ouvindo as intervenções de Sampaio da Nóvoa e muito do que vou ouvindo e lendo como argumentação contrária mais se sedimenta a minha convicção de que a sua candidatura pode ser um fortíssimo
contributo para um processo de mudança absolutamente necessário.
Ainda mais necessário é num país
que teve na Presidência da República uma figura que não serviu o que se espera
das suas competências e actuação ao serviço dos portugueses, de todos os
portugueses.
Será difícil, mas será possível.
PS – Registo de
interesses, integro a Comissão de Candidatura de Sampaio da
Nóvoa.
1 comentário:
Claro que a direita rejubila com Maria de Belém e Marcelo R S também.
Com a candidatura de Maria de Belém, vamos ter mais um presidente de direita e o Maarcelito todo contente.
Será que o PS vai, mais uma vez, fazer um erro histórico?
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