O I de hoje tem um trabalho
interessante sobre os “professores que deixaram marcas”, positivas, é claro.
São mostrados alguns depoimentos que ilustram a boa memória que muitos
professores deixaram.
Para além dos aspectos mais
directamente ligados à actividade escolar e à construção e descoberta do saber, dos saberes,
essa marca positiva é impressa em nós sobretudo através da relação que connosco
mantiveram esses professores.
Nas minhas conversas por aí sobre
estas coisas da educação desafio muitas vezes pais ou professores a recordarem
muito brevemente professores de quem guardam boas memórias. Quando lhes
pergunto porquê as justificações remetem muito significativamente para a
relação que com eles tiveram, para além do que com eles aprenderam das “coisas
da escola”.
Na verdade a profissão de
professor tem esse princípio fundador, assenta na relação que se operacionaliza
na comunicação. Por isso são também preocupantes os tempos que vivemos em que os
professores têm pouco tempo para comunicar, para conversar com os alunos. A
pressão para os resultados, a extensão dos conteúdos curriculares, o número de alunos
por turma, por exemplo, dificultam essa relação. O professor “fala com o programa”,
a maioria dos alunos entende, outros não e como esses é preciso falar mas … para
os mandar calar ou até sair. Há pouco tempo para conversar, para “cativar”,
como diria Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo que
os professores, tanto ou mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que são. Quando
nos lembramos com ternura e admiração de alguns professores é pelo que eles
eram e nem sempre pelo que nos ensinaram apesar da importância que tenha tido.
A este propósito uma pequena
história. Há uns tempos, num trabalho com professores numa cidade do interior,
uma Professora daquelas a sério contava que tinha uma experiência muito
interessante com uma turma CEF, as dos "alunos de segunda" como
muitas vezes são vistas. A professora comentava com os miúdos como estava
satisfeita com as mudanças positivas que eles apresentavam e perguntava a que
se deviam.
Um dos miúdos, o
"chefe", respondeu "sabe,
boceses gostam da gente, e a gente gosta de boceses". Quando nos contou
isto a professora não escondeu uma lágrima.
O Mestre João dos Santos quando
afirmava que alguém tinha sido seu professor justificava, "porque foi meu
amigo".
São assim os professores que nos
marcaram. Pela positiva, evidentemente.
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